Armênia lança foguete em prédio residencial em Ganja, segunda maior cidade do Azerbaijão

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Duas crianças foram mortas em novo ataque armênio no Cáucaso.

Em Brasília, o embaixador Elkhan Pholukov considerou “uma tentativa desonesta de matar civis para espalhar o terror na mente do Azerbaijão”. Segundo ele, os armênios estão coletando o dinheiro para novos foguetes balísticos, em vez de cuidar dos moradores das favela. Leia mais informações sobre o conflito entre os dois países na entrevista de Pholukov  ao jonal O Globo. O diplomata acusa a Armênia de fechar os canais de negociação pacífica sobre o conflito na região separatista de Nagorno-Karabakh.

‘Imagine se os armênios declarassem independência em São Paulo?’, diz o embaixador do Azerbaijão.

Thayz Guimarães

Uma disputa histórica entre armênios étnicos e azerbaijanos na região separatista de Nagorno-Karabakh virou uma guerra aberta no final de setembro, tendo como novo elemento o forte apoio da Turquia ao Azerbaijão. É o pior confronto na região desde os anos 1990, quando cerca 30 mil pessoas foram mortas no enclave de população armênia em território azeri.

Líderes internacionais, entre eles o presidente russo, Vladimir Putin, apelaram por um cessar-fogo imediato, que só foi assinado no último sábado. Porém, desde então, Baku e Ierevam se acusam de violar o acordo, e a guerra parece longe do fim.

Por que o Azerbaijão quer retomar o território de Nagorno-Karabakh, hoje governado por uma maioria étnica armênia?

Para entender o conflito em Nagorno-Karabakh, você definitivamente precisa olhar para o mapa e ver a localização geográfica deste enclave, que é cercado totalmente pelo território do Azerbaijão, e isso há séculos. Temos que considerar que nem a Armênia nem o Azerbaijão foram independentes por muitos anos, porque faziam parte do Império Russo e, depois, da União Soviética. Mas, desde a primeira vez que o Azerbaijão proclamou sua independência, em 1918, o mapa já incluía Nagorno-Karabakh como território azeri. Nagorno, aliás, vem do russo e significa “altiplano”, mas Karabakh é uma palavra azeri, que significa “jardim negro”. Os armênios introduziram artificialmente o nome Artsaque depois. Em 2008, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o reconhecimento da integridade territorial do Azerbaijão e assim o país tornou-se membro de uma série de organizações internacionais tendo sua fronteira internacional reconhecida. Ao contrário de Artsaque, uma república artificial que nunca foi reconhecida.

Houve um acordo de cessar-fogo imediato em 1993, mas um acordo de paz nunca foi alcançado. O que aconteceu?

O acordo propunha como passo inicial que os armênios retirassem suas forças militares de cinco das sete regiões ocupadas. Depois disso, os lados iniciariam as negociações de paz dentro das garantias internacionais, a Armênia retiraria suas forças de ocupação das duas regiões restantes e todos os deslocados internos voltariam para suas casas. Hoje, no entanto, há uma reivindicação de independência total. Eles (os separatistas) não dão nenhuma outra opção.

O que os separatistas ganhariam com esse acordo?

Oferecemos a eles que tivessem o seu próprio exército, sua própria moeda e política externa. Oferecemos a eles praticamente tudo, até investimentos na Armênia, que é o país mais pobre da nossa região. Infelizmente, não funcionou. Em 2018, quando Nikol Pashinyan chegou ao poder na Armênia, após a Revolução de Veludo, ele começou a nos mandar mensagens pedindo um tempo para resolver tudo. Demos tempo a ele, não pusemos nenhuma pressão sobre a Armênia. Mas então ele mudou completamente o seu discurso quando começamos a falar sobre o status de Nagorno-Karabakh. A última gota foi quando ele disse que “Karabakh é Armênia, ponto”. Isso significa que ele não deixou nenhum espaço para continuar as negociações, ele cortou todos os canais.

O Azerbaijão então partiu para o ataque, ou foi a Armênia que reaqueceu o conflito?

Eles retomaram as provocações em 12 de julho deste ano, desta vez muito longe da zona de conflito, em Tavush, na fronteira oficial entre a Armênia e o Azerbaijão. Eles bombardearam nossa infraestrutura de petróleo e gás, nossos vários oleodutos, usados não apenas para consumo próprio, mas também para exportar para Europa, Cazaquistão, Turcomenistão e alguns outros países. Depois, eles bombardearam assentamentos de pessoas. E em 27 de setembro, a Armênia partiu para o ataque nas terras ocupadas de Nagorno-Karabakh. Foi depois disso que decidimos que era preciso libertar as nossas terras.

Qual é a posição do governo azeri hoje sobre o conflito em Nagorno-Karabakh?

Estamos prontos para sentar e conversar, mas precisamos de garantias internacionais de retirada de todas as forças militares armênias de todos os territórios ocupados. Do ponto de vista do direito internacional, o Azerbaijão está operando em seu próprio território. Não estamos invadindo a Armênia nem ameaçando um determinado país. Estamos libertando todos os que estavam em Nagorno-Karabakh e pegando de volta nossas terras. Mas, mesmo assim, vemos os armênios que vivem em Karabakh como nossos cidadãos.

O que o senhor quer dizer com “libertar” a população de Nagorno-Karabakh?

É responsabilidade do governo limpar essa terra e deixar os mais de 1 milhão de refugiados voltarem para suas casas. Todo mundo fala em cessar-fogo, mas essa é a segunda geração de deslocados que cresceram sem nunca terem visto suas próprias terras, sem direito mesmo a cruzar a linha de frente para ir visitar o túmulo de seus ancestrais. Não estamos lutando contra os armênios, nosso problema é com a atual liderança.

Os armênios alegam que não estão brigando pelo território, mas sim pela autodeterminação da maioria armênia que vive em Nagorno-Karabakh…

Estamos defendendo nosso território de acordo com o direito internacional. Qual regulamento internacional a Armênia usa? Para mim, não está claro. Eles podem falar em autodeterminação, mas é a mesma coisa que, imagine, amanhã os armênios que vivem em São Paulo decidirem proclamar a independência da Avenida Armênia com base no fato de que a maioria das pessoas ali é de origem armênia. Não tem fundamento.

O que é preciso para se chegar a um acordo de paz na região?

Uma nova guerra já começou, ambos os lados estão usando artilharia pesada e tudo o que têm em seu arsenal. A paz deve ser um compromisso de ambos os lados, sabendo que é impossível encontrar uma solução que agrade os dois integralmente.

Qual é a importância do apoio turco para o Azerbaijão nesse conflito?

A Turquia é o maior e mais próximo aliado do Azerbaijão. É nosso parceiro estratégico e compartilhamos muitas coisas em comum, incluindo a língua e a cultura. Costumamos dizer que somos uma nação separada em dois Estados. No caso de Nagorno-Karabakh, o exército do Azerbaijão hoje é plenamente capaz — pelo potencial militar, humano e moral — de restaurar a soberania dessas terras sem qualquer apoio. O apoio que recebemos da Turquia é moral, diplomático e informativo na arena internacional.

Por Liz Elaine Lôbo –  Embassy News com informações de Sandra Barreto da Gazeta do DF

Foto Reprodução