No dia 7 de outubro de 2017, o Brasil parecia viver uma espécie de ressaca na vida política. Arrasado pelas denúncias da Lava Jato, o PT tentava recompor seu leque de alianças, ainda ventilando a ideia de levar às urnas o nome de Lula, que até então não havia sido preso.
Ainda havia no ar a antiga rivalidade entre PT e PSDB. Geraldo Alckmin se apresentava para a disputa, mas via João Doria — na época prefeito da maior cidade do país — se movimentar em paralelo.
O jogo contava ainda com outros nomes, alguns deles veteranos, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
Naquela lista de pré-candidatos, aparecia discretamente o deputado federal Jair Bolsonaro. Era aquela figura que, no jargão jornalístico, preencheria no seu melhor dia um “pé de página”.
Quem lesse os jornais naquela época custaria a acreditar que, dali a quatro anos, ele estaria sentado no Palácio do Planalto, no comando do enfrentamento da brutal crise provocada pela pandemia de Covid-19.
Pulando para o início de outubro de 2021, o Brasil falava em romper a polarização.
Doria aparecia mais uma vez entre os interessados, junto com nomes como Ciro Gomes, Sérgio Moro, Simone Tebet.
Havia muita conversa sobre terceira via. Uma espécie de torcida no centro por um desfecho diferente da permanência de Bolsonaro ou do retorno de Lula ao Palácio do Planalto.
O caminho do meio perdeu força e Lula voltou à Presidência para um terceiro mandato.
Hoje, a um ano das eleições presidenciais de 2026, o cenário é tão ou mais incerto do que nas duas eleições anteriores.
Por enquanto, o que se sabe é que Lula pretende disputar a reeleição. Mas mesmo ali não há 100% de certeza se o plano vai vingar, dada a idade do próprio presidente, que sempre ressalta que se lançará se tiver saúde para tanto. Lula completará 80 anos neste mês.
Segundo seus médicos, essa parte não é problema. Mas, para seus aliados, tudo vai depender também das chances de vitória.
Ainda há quem diga, sob reserva, que Lula pode desistir na última hora se enxergar algum risco real à sua reeleição. Afinal, não faria sentido encerrar a carreira com uma derrota.
Mas o dilema maior está no campo adversário, que ainda não faz ideia de qual nome estará nas urnas com Bolsonaro fora do jogo eleitoral.
Os ensaios de Tarcísio
Tido como um dos nomes mais competitivos para a vaga, Tarcísio de Freitas (Republicanos) até ensaiou se apresentar como presidenciável e logo recuou. Agora, voltou ao modo reeleição, em São Paulo.
E a tendência é que ele aguarde até o limite do prazo previsto pela legislação para decidir se tenta um voo na direção do Planalto ou se disputa um novo mandato de governador.
Qualquer movimento de Tarcísio dependerá de seu padrinho e do grupo político que o cerca. Ali também há dúvidas de sobra.
Ninguém sabe se o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltará ao Brasil e insistirá em se lançar candidato, mesmo sem uma chapa que englobe forças de centro.
Também não há certeza de outros nomes no centro e na centro-direita se arriscarão na empreitada presidencial. Entra nessa lista, por exemplo, Ratinho Junior (PSD), Eduardo Leite (PSD), Ronaldo Caiado (União), Romeu Zema (Novo).
Mais do que isso, é incerto até que ponto Bolsonaro conseguirá reter seu capital eleitoral e transferi-lo a um novo nome da sua preferência. E uma fragmentação da oposição pode acabar favorecendo o governo, que já começa a olhar com mais otimismo para os números de aprovação de Lula.
Diante de tantas variáveis, a tendência é que o Brasil entre em modo eleições em terreno incerto.
Na visão do governo Lula, pode ser uma oportunidade para avançar na agenda de entregas e consolidar o projeto de reeleição.
Há entre petistas quem se arrisque a dizer que, se Tarcísio de fato recuar, dificilmente um nome do campo adversário ameaçará a recondução do petista.
Mas é fato que a direita não abrirá mão facilmente de um plano presidencial. E nem o centro dá sinais de que está disposto a perder a oportunidade de jogar como protagonista. Fato é que os dois lados terão de fazer apostas de risco. E torcer para as forças ao centro não ganharem vida própria.
Mas nada é certo tantos meses antes da ida às urnas. Que o digam 2018 e 2022.
Por Por Brasília
Fonte CNN Brasil
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR