Ocorrências com peçonhentos dobraram em 2023 no DF;

Veja como agir. Escorpiões, aranhas e baratas são vistos com frequência em residências do DF. Com abrigos alagados neste período chuvoso, animais saem em busca de ambientes secos e de alimentos

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A proliferação de escorpiões, aranhas e baratas, tem preocupado moradores do Distrito Federal neste início do ano, marcado pelas chuvas. Com os abrigos alagados, os animais saem à procura de locais mais secos e de alimentos, entrando em residências e locais de trabalho. Segundo a Secretaria de Vigilância Ambiental, o número de ocorrências envolvendo animais peçonhentos mais do que dobrou de 2022 para 2023. Subiu  de 167 para 356 casos. No ano passado, o Lago Norte foi a região que mais houve bichos encontrados: 63. Em seguida vem Gama, com 27, e Ceilândia, com 25 animais identificados.

Pessoas que tiveram a visita indesejada desses animais revelaram ao Correio falta de conhecimento para agir com os invasores. Morador do Núcleo Bandeirante, o advogado Adalto Mateus Júnior, 35 anos, relata que, em dezembro, encontrou dois escorpiões em casa, um atrás do sofá e outro embaixo da cama. “Tenho quatro cachorros e isso é um perigo muito grande porque eles gostam de brincar e correr para todo o lado. Estou com medo dessa onda de escorpiões que está ocorrendo em Brasília”, afirma.

Em uma chácara no Altiplano Leste, no Paranoá, onde mora com o marido e o filho, de 4 anos, a empreendedora Raiane Wentz, 27, tem outra preocupação: aranhas armadeiras, caranguejeiras ou cobras que costumam aparecer no local. “Em 2021, acordei com uma picada. Passei pomada e, com o passar dos dias, melhorou. Temo mais pelo meu filho que não tem medo de nada. Uma vez, encontramos uma aranha morta embaixo da cama”, relata.

Raiane conta que a primeira vez que viu uma aranha-armadeira ficou chocada. “Nunca tinha visto algo parecido. Era maior que uma mão. De lá para cá, vi mais algumas, tão assustadoras quanto. Em outra vez, uma caranguejeira soltou pelos em nós. Como temos um filho pequeno, a nossa reação é sempre matar a aranha, porque em muitos casos o desespero é tão grande que não dá tempo de pensar em resgate. Moramos em um setor de chácaras e demoraria muito até chegar alguém”, reconhece.

O susto para a servidora pública Fátima Queiroz, 53, foi na cozinha de casa, de frente para o quintal, onde ela se deparou com um escorpião-amarelo na noite da última terça-feira. Moradora do Setor P. Sul, em Ceilândia, ela conta que chamou o marido, que pôs o aracnídeo em um pote de plástico. “Colocamos álcool dentro do pote para matá-lo e deixamos ele em uma Unidade Básica de Saúde”, lembra.

Fátima confessa que sente falta de uma assistência à população para saber o que fazer quando avistar um animal peçonhento. “Acho que deveria ter maior orientação sobre o que fazer, principalmente neste período de chuvas, que é quando eles costumam aparecer. Eu nunca tinha visto um escorpião e fiquei surpresa. Minha filha chegou a pesquisar orientações, mas não achou nada muito recente do que fazer com o animal morto”, diz.

A proliferação desses bichos também preocupa trabalhadores de centros comerciais. Gerente de uma esmalteria no Sudoeste, Aline Rodrigues Lima, 26, lembra do momento em que, sem intenção, matou um escorpião. Na semana passada, ela estava sentada na recepção quando se levantou da cadeira e pisou no animal. “Eu tinha pisado sem querer, mas ele poderia ter me picado porque estava do lado do meu pé. Ainda bem que eu estava de tênis”, alivia-se.

Sem saber o que fazer, Aline pediu ajuda das colegas de trabalho, que jogaram um álcool em cima para garantir que o animal tivesse morrido. “De vez em quando também aparecem baratas no condomínio, que tem mais de 10 anos de existência. Temos que ficar dedetizando todo ano”, afirma. A gerente fica atenta à limpeza do local. “A gente tem armários, copa, dois banheiros e pia. Fico morrendo de medo de aparecer um escorpião de novo”, desabafa.

Como agir

A Secretaria de Saúde informa que, no DF, é mais importante identificar o escorpião Tityus serrulatus (amarelo), porque é o mais perigoso e pode causar mortes em crianças e idosos. A pasta alerta que a aranha-armadeira é a mais peçonhenta das aranhas encontradas na capital federal. A pasta chama a atenção para a lagarta Lonomia (larva de uma mariposa). Se o veneno dela entrar em contato com a pele das pessoas, pode causar hemorragia.

Em caso de acidentes com animais peçonhentos, a secretaria orienta que a população procure imediatamente o pronto-socorro mais próximo.Se o ataque for por escorpião, aranha, lagarta ou lacraia, as pessoas precisam ainda entrar em contato com a Vigilância Ambiental pelo telefone 160, (61) 2017-1344 ou pelo e-mail gevapac.dival@gmail.com para agendamento da inspeção. Após a marcação de um horário, uma equipe é enviada à residência que faz a coleta dos animais existentes e fiscaliza caixas de esgoto e entulhos.

A pasta conta também com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), referência no atendimento aos pacientes picados, que funciona 24 horas por dia.O Ciatox possui equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros e farmacêuticos que prestam orientação à população. Em caso de ocorrência, disque 0800-644-6774.

A Vigilância Ambiental ressalta que sejam adotadas as medidas de precaução nos domicílios e locais em que esses animais venham a aparecer. A origem da infestação dos escorpiões, por exemplo, está nos esgotos, tubulações de telefonia e elétrica.

As serpentes são capturadas pela Polícia Militar Ambiental e as abelhas, pelo Corpo de Bombeiros Militar do DF.

Por Pedro Marra do Correio Braziliense

Foto: Ed Alves/CB / Reprodução Correio Braziliense