Como uma cidade singular, Brasília desenvolveu uma identidade cultural muito forte, apesar da pouca idade. A cidade abriga, no universo literário, uma riqueza de obras e gêneros, acessíveis de forma gratuita na Biblioteca Pública de Brasília (BPB), localizada na 512/513 Sul. O local reúne o maior acervo de livros de autores brasilienses de todo o Distrito Federal.
Na biblioteca pública, estão disponíveis 622 obras de crônicas, poemas, contos, romances e outros gêneros, escritos por 437 homens e 185 mulheres. Os exemplares contam, em verso e prosa, as memórias da capital e a forma de enxergar o mundo de quem nasceu ou cresceu no quadradinho.
Ter um acervo extenso em um equipamento público do Governo do Distrito Federal (GDF) é, além de uma forma de incentivo à produção de cultura local, uma maneira de democratizar o conhecimento e gerar identificação por parte da população da cidade.
“A biblioteca é muito mais que um amontoado de livros”, frisa o gerente Átila Vinicius de Carvalho Pessoa. “Existe, da nossa parte, uma preocupação em abrigar essa produção literária brasiliense em um local de fácil acesso, não apenas como incentivo, mas também como memória e construção de identidade”, destaca.
São duas prateleiras próximas à entrada da biblioteca, devidamente identificadas como “escritores de Brasília”. Para os autores, ter exemplares em bibliotecas públicas é uma forma de reconhecimento. Além disso, representa a possibilidade de “ser lido” por pessoas que, de alguma forma, podem se ver representadas nos personagens, cenários e enredos.
“Estar na biblioteca é estar acessível na sua própria cidade”, avalia a escritora e jornalista Maíra Valério, autora do livro de contos Homens que Nunca Conheci, uma das publicações disponíveis no local. “É uma forma de reconhecimento, bastante importante para quem é escritor. Especialmente porque é um lugar de relacionamento, de formação do leitor”, frisa.
A procura por esse tipo de obra literária, no entanto, ainda é reduzida, segundo o gerente da biblioteca. “Nós temos essa preocupação, de dar visibilidade e facilitar acesso a essas obras. Mas a procura ainda é pouca, há espaço para muito mais”, destaca.
Contar as próprias histórias
Inaugurada no Dia do Bibliotecário em homenagem à própria história de origem, a biblioteca pública nasceu do anseio de uma comunidade que almejava pela criação do equipamento na Asa Sul. Um terreno abandonado na Entrequadra 512/513 Sul, onde antes havia um minimercado, foi escolhido para abrigar o espaço.
O local é o terceiro mais frequentado no DF e tem o segundo maior acervo, perdendo apenas para a Biblioteca Nacional de Brasília (BNB). Ter uma seção exclusiva para as histórias de brasilienses é, na visão do presidente do Sindicato dos Escritores (Sindescritores), Marcos Linhares, uma proposta que deve ser reproduzida em outras bibliotecas e livrarias.
“É uma iniciativa que, além de louvável, tem que ser replicada. Porque isso também traz para os frequentadores a percepção e a concretude de que existe a produção local”, avalia.
A iniciativa também pode servir como inspiração para futuros autores. “Visitarmos essas obras que falam das nossas histórias, das nossas questões, fazem você começar a olhar aqueles lugares de maneira diferente. Eles adquirem um novo valor para você”, avalia. “O valor literário traz uma releitura do espaço geográfico como um todo, e você passa a fazer parte dele.”
Por Ana Flávia Castro da Agência Brasília
Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília / Reprodução Agência Brasília