Um estudo publicado recentemente pela República.org mostrou qual é o perfil das mulheres que trabalham em cargos de liderança dentro do governo federal. O levantamento, que ouviu 282 mulheres, revelou que a maioria ocupa um cargo de chefia (64,1%), tem entre 31 e 50 anos (76,1%), é branca (69,4%), casada (57,1%), sendo mãe ou madrasta (73,9%). Além disso, um alto percentual tem especialização ou mestrado (71,4%), com renda acima de 10 salários mínimos (77,1%).
O estudo, chamado “Mulheres e liderança na burocracia federal”, traz diversos dados que evidenciam a falta de equidade dentro do serviço público federal. O levantamento faz parte de uma pesquisa mais ampla ainda em andamento, desenvolvida pelas cientistas políticas Michelle Fernandez e Ananda Marques entre novembro e dezembro de 2023.
“Buscamos analisar o perfil das mulheres em cargos de liderança no governo federal e identificar os principais fatores que influenciam suas trajetórias”, explica Ananda Marques.
O estudo mostrou também o quanto o assédio sexual e a violência psicológica estão presentes no serviço público federal. O levantamento revelou que 28,3% das respondentes vivenciaram assédio sexual no trabalho e 30% delas sofreram com violência psicológica em seus locais de trabalho.
As respostas das mulheres entrevistadas apontam que mais da metade identificou a discriminação por gênero (55,1%) no ambiente de trabalho. “Alcançar a igualdade de gênero no serviço público é essencial para a produção de políticas públicas mais justas e eficientes para todas as pessoas”, afirma Michelle Fernandez.
Sobre os fatores que dificultaram a promoção a um cargo de chefia, aparecem a discriminação por gênero (40,8%), a conciliação do trabalho com a maternidade (38,3%) e a sobrecarga do trabalho doméstico (28%). Além disso, 10% do total delas nunca foi chefiada por uma servidora.
Para ampliar o debate sobre a questão da igualdade de gênero no serviço público, é necessário um maior investimento em pesquisas sobre as questões de gênero, de acordo com Vanessa Campagnac, gerente de dados e comunicação da República.org – instituto dedicado à melhoria da gestão de pessoas no serviço público brasileiro.
“A baixa presença de mulheres em cargos de liderança, em função de discriminação e sobrecarga feminina, também é uma realidade no setor público. Por isso, é tão importante tentarmos avaliar o problema com mais profundidade”, afirma Vanessa Campagnac.
Por Jornal de Brasília
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil / Reprodução Jornal de Brasília