Em seu primeiro discurso como candidato a vice da democrata Kamala Harris, na última terça-feira, Tim Walz — governador de Minnesota — aproveitou para atacar o ex-presidente republicano e adversário nas eleições de seu partido nas eleições de 5 de novembro. “Donald Trump vê o mundo de outra maneira. Ele não sabe nada sobre o que é servir, porque está muito ocupado, servindo a si mesmo”, declarou, diante de um estádio lotado na Filadélfia (Pensilvânia). No dia seguinte, em Eau Claire (Wisconsin), ele adotou uma retórica voltada a formar uma coalizão com os indecisos, os independentes e os republicanos insatisfeitos com Trump. “Com seu número dois (J.D. Vance), ele compartilha as mesmas crenças perigosas e retrógradas”, disse Walz.
Ex-professor e veterano da Guarda Nacional, Walz está alinhado, ideologicamente, a uma questão considerada crucial para os democratas: a defesa do aborto. Em junho de 2022, depois de a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubar as proteções para o aborto consagradas na Constituição, Walz desafiou a Justiça e prometeu transformar Minnesota em um refúgio para as mulheres que buscassem a interrupção assistida da gestação. Em março passado, ele acompanhou Kamala em uma visita oficial a uma clínica de aborto. O Correio entrevistou dois analistas norte-americanos sobre a escolha de Walz para compor a chapa com Kamala e sobre a comparação destoante entre ele e o candidato a vice do Partido Republicano, J.D. Vance.
Matthew Dallek, historiador político da Universidade George Washington (em Washington D.C.), explicou que Tim Walz reúne características que atraíram a campanha de Kamala. “Ele é um homem do campo, portador de armas e ex-treinador de futebol americano que ganhou em um estado muito conservador. Walz vem de um estado do Meio-Oeste, cresceu em uma pequena cidade do Nebraska e, por isso, poderia atrair apenas os eleitores brancos dessa região — tanto aqueles sem educação superior quanto os aposentados”, observou.
Segundo Dallek, o apelo de Walz também se apoia na aprovação junto a eleitores-chave do Partido Democrata, como: sindicatos, professores e a comunidade LGBTQIAP . “Ao mesmo tempo, ele não ameaçou colocar a guerra na Faixa de Gaza como prioridade, o que potencialmente dividiria o Partido Democrata. A esperança é de que Waltz apele aos eleitores moderados e mesmo aqueles das áreas rurais de estados-chave do Meio-Oeste, enquanto anima a base democrata.”
Professor de ciência política da Universidade de Massachusetts Lowell, John Cluverius disse acreditar que Walz foi a escolha certa, dentro do Partido Democrata, porque não seu nome não ofende ninguém. “Como governador de Minnesota, ele foi capaz de aprovar inúmeras reformas incrementais que são parte de uma agenda democrata normal, como: licença familiar remunerada; café da manhã e almoço gratuitos na escola para todos os alunos; verificações de antecedentes criminais obrigatórios para todas as vendas de armas de fogo; e proteção do direito ao aborto”, afirmou. “Sua qualidade mais notável é a capacidade de fazer com que seus oponentes políticos se sintam bem, mesmo quando ele não compartilha de suas opiniões.”
Diferenças
De acordo com Cluverius, Walz e o candidato a vice do Partido Republicano, J.D. Vance, são muito diferentes. “Embora ambos tenham origens humildes, Walz teve uma vida menos prestigiosa. Vance é mais jovem e mais ambicioso, mas Walz tem mais experiência no governo. Assim como Kamala, Walz trabalhou como funcionário público na maior parte de sua vida adulta”, comentou. “Ambos também são politicamente muito diferentes; Waltz tem sido um democrata de esquerda, enquanto Vance é um republicano de direita radical.”
O professor da Universidade de Massachusetts Lowell reconhece que uma chapa formada apenas de mulheres representaria um forte contraste com Trump e Vance. “Mas acho que Harris especificamente queria um candidato que não planejasse disputar a Presidência em oito anos. Waltz terá 68 anos em 2032, o que é, à exceção de Trump e de Joe Biden, bem velho para buscar a Casa Branca”, admitiu Cluverius.
Por sua vez, Dallek avaliou os candidatos a vice democrata e republicano como “ideológica e politicamente extremamente diferentes”. “Walz governou como um progressista em Minnesota, enquanto Vance, de alguém que odiava Trump, tornou-se um acólito que ama o ex-presidente. Vance talvez seja um dos piores postulantes a vice-presidente na história recente dos EUA. Ele parece desdenhoso e irritado, e a campanha de Kamala espera que Walz possa se contrapor a Vance, ao trazer alegria, otimismo e esperança”, acrescentou.
EU ACHO…
“A campanha de Kamala Harris espera que Tim Walz possa retirar votos suficientes da classe trabalhadora branca e dos idosos na Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, a fim de ajudá-la a chegar à Presidência dos Estados Unidos. A teoria da campanha de Kamala era de que eles precisavam de um homem branco para alcançar equilíbrio racial, de gênero e geográfico.”
Matthew Dallek, historiador político da Universidade George Washington
Por Rodrigo Craveiro do Correio Braziliense
Foto: Kamil Krzaczynski/AFP / Reprodução Correio Braziliense