Naufragando no DF esquerda tenta se organizar para 2026

Definição de Érika Kokay, Chico Vigilante e aliança entre petistas e o MDB no âmbito nacional podem bagunçar tabuleiro no Distrito Federal e pesar em definições nas disputas ao Legislativo federal

0
164

O encontro entre os deputados distritais do PT e o ex-ministro José Dirceu, nesta terça-feira (20/8), foi muito além de mera formalidade e de análise de cenários. Com a esquerda tentando se unificar em torno de um consenso para retornar ao Palácio do Buriti em 2026, promessas e cobranças foram feitas, entre o mensageiro nacional da sigla e os parlamentares locais.

A ausência de Érika Kokay, que está em viagem, pode ter atrasado um dos principais debates sobre o futuro de alguns colegas e de outros partidos também. O cenário atual mostra que, acreditando em um bom desempenho econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT quer reforçar sua base dentro do Congresso Nacional para o próximo ciclo, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal — hoje com um maior número de oposicionistas do que membros fiéis na base.

O primeiro passo para atrair os partidos de centro-esquerda é dar a cabeça de chapa para Leandro Grass (PV). Bem avaliado pelos partidos que o apoiaram na eleição passada, quando ficou atrás de Ibaneis Rocha (MDB), que venceu em primeiro turno, ele deve ser novamente o nome da coalisão, mesmo se mantendo no Partido verde.

O PDT, independentemente de ter ou não um candidato à presidência da República, já tem vaga na majoritária com a senadora Leila Barros, que vai tentar mais oito anos. O acordo foi fechado diretamente com o Palácio do Planalto e, ainda que a aliança não se repita no plano federal, ela terá o apoio do PT no Distrito Federal.

É nesse ponto que entra a problemática com a ausência de Érika Kokay na reunião desta terça-feira. Mesmo estando a quase dois anos das eleições de 2026, será a posição da petista que vai definir a vida de colegas de partido e de outras legendas também.

A deputada federal Érika é cotada fortemente para uma vaga na disputa do Senado, mas ainda não bateu o martelo. Falta a ela e ao partido segurança para enfrentar nomes como o próprio governador Ibaneis Rocha e a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro (PL), que é cotada para a disputa.

Chico Vigilante no Congresso

Dois políticos esperam que a deputada se defina para também eles possam dar continuidade a suas “vidas eleitorais”. O primeiro é o próprio Chico Vigilante. O decano da Câmara Legislativa quer entrar na disputa por uma vaga ao Congresso Nacional. Caso Érika Kokay decida concorrer ao Senado, Vigilante partirá para a Câmara dos Deputados e, ficando a deputada para na concorrer à reeleição, o veterano distrital concorrerá ao Senado.

Chico tem o apoio do partido, que pediu a intercessão de José Dirceu para que “cobre um favor” do presidente Lula. Em 2002, Chico abriu mão de disputar uma vaga no Congresso, a pedido de Lula, para que Sigmaringa Seixas fosse o candidato petista à Câmara Federal. Agora, o PT-DF quer que o chefe do Executivo federal faça o mesmo que foi feito com o ex-deputado federal e pegue Chico Vigilante pela mão e o anuncie como o candidato oficial do partido. Acreditando na boa votação que teve nos últimos pleitos para distrital, Vigilante é considerado nome forte para as duas vagas.

O segundo nome a aguardar Érika é Fábio Felix, do PSol. Distrital mais bem votado em 2022, não é novidade para ninguém que o parlamentar pretende vir para a Câmara dos Deputados, em 2026. Porém, a indefinição de Érika, sobre para onde vai, poderá manter Fábio Felix na Câmara Legislativa, o que também atingiria os distritais do PT, Ricardo Vale e Gabriel Magno.  

Câmara Legislativa

Com a possível saída de Chico Vigilante do pleito para a CLDF, o PT terá que reforçar suas bases para repetir a votação e manter seus dois parlamentares que disputarão a reeleição. Ricardo Vale e Gabriel Magno tiveram boa votação, mas só foram eleitos de forma direta graças aos votos de Vigilante. Além de uma boa nominata, os parlamentares precisarão quase que dobrar suas votações para terem chances de reeleição.

Paulo Octávio

A missão do PT, agora, é atrair partidos de esquerda e centro-esquerda, mas uma sigla que tem apoio de praticamente todas as alas da direção do petismo brasiliense é o PSD, de centro-direita, em especial Paulo Octávio. O partido tem uma boa base na Câmara Legislativa e pode ser um bom contrapeso para atrair votos de eleitores de direita e de centro. As tratativas ainda estão no campo do “vamos conversar depois”, mas há uma boa sinalização.

MDB

Outro cenário que está sendo desenhado, mas esse pelo Palácio do Planalto é reatamento do PT com o MDB, após o impeachment de Dilma Rousseff. Nesse cenário, o governador Ibaneis Rocha e o presidente Lula estariam juntos em um palanque eleitoral, algo impensável neste momento, uma vez que ambos trocaram diversas farpas, seja por conta de ideologias políticas seja por conta de acusações, durante os episódios que se seguiram ao 8 de janeiro.

Nessa toada, a tendência é que Ibaneis deixe o MDB. O senso comum apontaria para um aceite do governador para se filiar ao PL de Jair Bolsonaro, Michele Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto. Porém, há outro caminho que pode ser seguido: o União Brasil. O partido, que atualmente tem cargos no governo Lula, mas não tem votado com o presidente, seria uma saída de centro para Ibaneis.

Em uma possível aliança com o MDB, o PT pode oferecer ao partido a vice na chapa ao Governo do Distrito Federal. O nome mais cotado é o de Rafael Prudente, atualmente deputado federal.

Rollemberg

Fechando o pacote, quem pode sobrar no fim das contas é o ex-governador do DF Rodrigo Rollemberg (PSB). Atualmente, o político está isolado, por não ter mandato e por ataques feitos ao PT, no passado. Para ele, restaria a disputa de uma cadeira a deputado federal ou recuar para distrital.

O maior interesse em que as conversas se prologuem é do peessedista. Rollemberg ainda tem a esperança que uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, posteriormente, do Supremo Tribunal Federal (STF) dê a ele a vaga de deputado federal, baseado em cálculos de votos.

Caso ele consiga ir para a Câmara dos Deputados, Rollemebrg volta para o jogo, e passa a ter um trunfo: o mandato. Caberá a aliança definir se ele terá ou não uma possível nominata a majoritária, como ele almeja.

Por Suzano Almeida do Jornal de Brasília

Foto:  Divulgação / Reprodução Jornal de Brasília