120 dias sem chuva! Baixa umidade do ar coloca o DF em alerta vermelho

Os termômetros da capital registram altas temperaturas e a umidade do ar baixa. Especialistas apontam o público mais suscetível às doenças e o que pode ser feito para melhorar o bem-estar nesta época

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Há 120 dias não chove no Distrito Federal. Há pelo menos 10 dias girando em cerca de 20%, na última semana, a umidade relativa do ar chegou a 12%, um índice bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — é considerado um nível saudável quando está entre 40% e 60%. Diante desse cenário, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta vermelho, que informa a população sobre as altas probabilidades de danos à saúde e à natureza em determinados horários do dia. Sinalização parecida também é dada pela Defesa Civil. Na seca extrema, além dos incêndios florestais, as doenças respiratórias como gripe, sinusite, rinite, resfriados e até pneumonia se tornam mais comuns.

A temperatura máxima, nessa terça-feira (20/8), foi de 29ºC, com mínima de 14°C, e a umidade variou entre 23% e 53%. O período do final do inverno explica as altas temperaturas e o tempo mais seco. Em 2023, a chuva começou a cair na capital por volta do final de agosto, intensificando-se mais em setembro. De acordo com o Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que monitora a condição de secas e seus impactos diretos e indiretos no Brasil, no ano passado, foram registrados os índices de precipitação mais baixos dos últimos 40 anos, especialmente no período de julho a setembro uma tendência que se mantém. E a capital do país não escapa dessa realidade.

O otorrinolaringologista e professor do curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB) Gustavo Lara explica que o número de pacientes em hospitais sobe nessa condição meteorológica. “Há um aumento dos atendimentos de pessoas com sangramento nasal e também nas internações e no uso dos tamponamentos nasais. Idosos e tabagistas são os mais vulneráveis, então é importante evitar a exposição a poluentes”, frisa. 

Hidratação constante

Em uma faixa etária considerada mais vulnerável, Jucialma Dantas, 60 anos, comenta que esta é a época em que ela mais tem problemas com a saúde. “Meu nariz fica extremamente seco e minha garganta inflama constantemente. Hoje, por exemplo, pensei que iria ficar gripada. Normalmente, eu prefiro tomar muita água e hidratar bastante a pele”, afirma a aposentada. “Sempre incentivamos a hidratação. Os cuidados em casa já facilitam muito. Alimentos ricos em água e ricos em vitamina C, como chás de laranja, acerola, kiwi, são recomendados”, orienta o otorrinolaringologista. Ele recomenda, ainda, o uso de panos e baldes com água dentro do quarto e umidificadores na medida certa. “Sem extrapolar para não gerar um ambiente com em fungos e facilitar a proliferação de bactérias ou vírus”, completa.

Os problemas respiratórios de Rosilene Bonfim, 31, e dos dois filhos pequenos sempre começam a aparecer logo nos primeiros dias em que o ar fica mais árido. “É comum sentirmos a pele repuxando e o nariz seco”, conta a dona de casa. Sintomas dermatológicos também são sentidos por Layla Nathaly da Silva, 25. “Tenho que exagerar no hidratante e protetor solar”, desabafa a moradora de Santa Maria. 

Pessoas com doenças respiratórias como asma, bronquite e rinite acabam sendo mais suscetíveis a doenças com as alterações climatológicas. O pneumologista Gunther Kissmann esclarece que, quando há uma baixa umidade do ar, isso faz com que as vias aéreas fiquem mais ressecadas e sensíveis. “Por um conjunto de fatores, poeiras e partículas de suspensão acabam sendo inaladas. Então, pessoas alérgicas e com tendência a contrair pneumonia, como crianças e idosos, devem ficar atentas quando o clima muda”, destaca o médico. 

O pneumologista ainda reforça que a melhor opção para driblar a falta de umidade constante é tomar bastante água. “Exposição ao sol e atividades físicas ao ar livre não são recomendadas. E é essencial beber mais líquidos para garantir que as mucosas fiquem mais úmidas e, assim, o efeito negativo seja menor”, conclui.

Mercado

A seca, por outro lado, é um período que agrada parte do comércio, como farmácias e lojas de eletrodomésticos. O farmacêutico Antônio Almeida, 32, conta que foi preciso solicitar novas remessas de protetores labiais na drogaria em que trabalha, no Sudoeste. “Nosso estoque chegou a zerar. É o produto que mais vendemos na loja. Outro que estamos comercializando bastante são os hidratantes corporais, principalmente com ureia. A procura, nesta loja, por umidificadores e protetores solares não é tão grande, mas sempre vendemos alguns”, contou.

O gerente de loja Renner de Sousa, 40, ressalta que o estabelecimento adquiriu um novo lote de umidificadores e climatizadores. “Até mesmo o ar-condicionado portátil, que custa mais caro, nesta época do ano, é sucesso de venda”, citou.

*Estagiários sob a supervisão de Patrick Selvatti

Por Luiza Marinho e Alessandro de Oliveira do Correio Braziliense

Foto: Luiza Marinho/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense