O Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB) desenvolveu o Multiscent 20, o primeiro tablet do mundo que avalia o olfato humano por meio da liberação de até 20 aromas digitais. O dispositivo utiliza tecnologia de ar seco para evitar a contaminação cruzada entre cheiros, permitindo o diagnóstico de distúrbios olfativos e de outras doenças, como rinossinusite crônica e doenças neurodegenerativas.
A pesquisa, que iniciou no período da pandemia, em 2020, foi influenciada pelas perdas súbitas de olfato provocadas pelo vírus da COVID-19. O estudo foi conduzido pelo otorrinolaringologista do HUB, Márcio Nakanishi, membro do Living Lab HUB-UnB, em parceria com a empresa Noar, uma startup referência no desenvolvimento de tecnologias de aromas digitais.
Produzido no Brasil, o Multiscent 20 é um dispositivo eletrônico com tecnologia de ar seco que libera fragrâncias que ajudam a identificar problemas no olfato dos pacientes. Com 20 perguntas, é possível detectar se o olfato está saudável ou não, funcionando da seguinte forma: se o paciente acertar de 15 a 20 pontos, não apresenta alteração no olfato; se acertar de 11 a 14, está com perda parcial do sentido (hiposmia); e se acertar menos de 10, está com perda total (anosmia).
Em abril de 2021, foi realizado o primeiro teste de um dispositivo inovador de avaliação olfativa no HUB, envolvendo 180 participantes. O estudo comparou a nova técnica de “cheiro digital”, criada no Brasil, com o tradicional UPSIT Test, conhecido como “cheiro analógico”. De acordo com Márcio Nakanishi, a primeira fase foi um “copia e cola” do padrão-ouro para a versão digital, replicando os 40 odores utilizados no UPSIT Test. Os voluntários foram divididos em dois grupos: um testado com o cheiro digital e outro com o analógico, invertendo-se os grupos no dia seguinte. Os resultados mostraram que o teste digital não só teve um desempenho ligeiramente superior, com média de 32 pontos contra 31 do analógico, mas também foi mais rápido, levando apenas 12 minutos, enquanto o analógico demorava 16 minutos. Os achados desse estudo foram publicados na revista International Forum of Allergy and Rhinology em fevereiro de 2022.
O segundo estudo, liderado pelo HUB, foi realizado na fábrica da Noar, em São Paulo, com 2.094 voluntários, e tinha como objetivo avaliar se 20 cheiros poderiam ser tão eficazes quanto os 40 utilizados no primeiro teste. O dispositivo, então denominado Multiscent 20, baseou-se na Teoria de Resposta ao Item para determinar a capacidade olfativa dos participantes. O estudo demonstrou que era possível identificar indivíduos com olfato normal, hiposmia (perda parcial do olfato) ou anosmia (perda total do olfato) usando as 20 perguntas. Esse estudo foi publicado na revista Scientific Reports da Nature em julho de 2024.
A Noar, fabricante do dispositivo, demonstrou total dedicação à causa, inspirada pelo trabalho do doutor Márcio Nakanishi, considerado fundamental para o desenvolvimento do projeto. Além de buscar a incorporação da tecnologia nos atendimentos do HUB, os pesquisadores trabalham agora para que a tecnologia seja disponibilizada aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil. Em ambos os casos, o projeto já está em processo de análise.
Por Suzano Almeida do Jornal de Brasília
Foto: Divulgação UnB / Reprodução Jornal de Brasília