Em 2025, o Brasil tem um caminho inequívoco a percorrer: o do crescimento econômico sustentável. Esse esforço deve estar alinhado às necessidades ambientais e às transformações motivadas pela emergência climática e a economia mundial. Esse foi o prognóstico apresentado por autoridades e especialistas reunidos ontem na sede do Correio Braziliense.
As perspectivas políticas e econômicas para o próximo ano foram temas tratados no evento CB Debate Desafios 2025: o futuro do Brasil em pauta. Ao anunciar as boas vindas aos convidados, o presidente do Correio Braziliense, Guilherme Machado, destacou a importância de uma reflexão qualificada das grandes questões da atualidade. “É uma oportunidade para debater transformações e tendências no cenário econômico, social e ambiental previstas para o próximo ano”, destacou.
Na abertura do evento, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), destacou a longa contribuição da Corte para a sustentabilidade. Ele apontou que as mudanças climáticas são “tema incontornável do nosso tempo”. “Seguramente a transição energética desempenha um papel fundamental no enfrentamento desta problemática. Apesar de negacionistas de toda sorte, a realidade de eventos extremos no novo normal vai forçando a humanidade a lidar com as repercussões de séculos de exploração econômica, muitas vezes, despreocupada com o meio ambiente”, afirmou Gilmar Mendes.
O ministro do STF destacou que o Brasil já é um exemplo na transição energética: “A situação brasileira é bem diferente dos demais países, dada a composição já altamente renovável de sua matriz energética e elétrica.” O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, traçou um panorama sobre os avanços e desafios da economia brasileira.
Segundo ele, o país vivenciou um cenário positivo de crescimento em 2024, impulsionado pelo consumo das famílias, investimentos e um mercado de trabalho aquecido. Mas 2025 deve apresentar situações complexas, com inflação pressionada, juros altos e um cenário fiscal que inspira atenção. Entre os principais fatores destacados está a trajetória da dívida pública.
Embora tenha elogiado a direção do pacote fiscal enviado pelo governo ao Congresso, Sidney reforçou a necessidade de medidas adicionais. “Não basta estar na direção correta. É preciso chegar ao destino, que é interromper a trajetória da dívida pública”, alertou.
O presidente da Febraban citou outros fatores. Apontou o cenário externo como fonte de volatilidade. Disse ainda que as expectativas de inflação seguem como um ponto de atenção para o país. Para o próximo ano, o executivo prevê uma economia mais contida. O país deve iniciar 2025 com “inflação mais alta, juros mais elevados e um dólar valorizado”
Essas variáveis, aliadas à redução do impulso fiscal e às incertezas sobre o ambiente externo, trarão desafios adicionais ao crescimento. “O setor bancário seguirá colaborando para alavancar o crescimento, sem perder de vista a análise cautelosa do risco de crédito”, concluiu Sidney.
Repensar o Estado
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, adotou um tom mais crítico. Fez duras análises sobre o cenário econômico e ambiental do país a partir do próximo ano, alertando para o crescimento descontrolado da dívida pública. “O Brasil perdeu espaço na globalização e, hoje, enfrenta um cenário preocupante. O aumento da dívida pública traz inflação alta, taxa Selic elevada e risco de deterioração para 2025. Isso afeta diretamente todos os estados”, avaliou.
Rollemberg destacou avanços no desenvolvimento sustentável por meio de políticas de descarbonização, da regulamentação do mercado de carbono e das oportunidades no setor industrial e agrícola. Na avaliação do secretário, essas políticas visam não apenas reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também atrair investimentos e estimular a reindustrialização verde do país.
“A regulamentação aprovada cria segurança jurídica e previsibilidade, o que é fundamental para atrair investidores. No setor do combustível sustentável de aviação (SAF), por exemplo, o Brasil possui rotas tecnológicas que o posicionam como um dos maiores potenciais produtores e exportadores globais”, pontuou. Apesar dos avanços, o ex-governador do Distrito Federal comentou o momento econômico. Criticou elevada taxa de juros no país, que, segundo ele, pode comprometer o fluxo de investimentos nos setores verdes. “Precisamos compreender os desafios reais da economia. Com o crescimento do PIB superando as expectativas e a menor taxa de desemprego histórica, não faz sentido manter juros tão elevados”, observou.
O secretário concluiu a sua participação reforçando o potencial do Brasil no contexto econômico global. “O Brasil tem condições de liderar a economia verde mundial. Podemos dobrar a nossa produção de biocombustíveis, descarbonizar a aviação global, restaurar florestas e transformar a agricultura num setor que remove mais carbono do que emite. O futuro passa pelo Brasil, e estamos prontos para essa responsabilidade”, finalizou.
O seminário Desafios 2025: o futuro do Brasil em pauta é uma realização da Arena Comunicação, com patrocínio da Brasal e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI); apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban); e apoio de comunicação do Correio Braziliense.
Por Rafaela Gonçalves, Renato Souza, Fernanda Strickland e Vanilson Oliveira do Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB / Reprodução Correio Braziliense