Saiba por quais crimes vai responder homem que matou vizinho no DF

Francisco Evaldo, acusado de matar o empresário com quatro tiros, se entregou na delegacia e está preso preventivamente. Amigos e parentes se despediram da vítima, assassinada com quatro tiros depois de uma briga de vizinhos

Uma discussão por uma vaga no estacionamento, quatro tiros e um assassinato. O silêncio do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, foi interrompido, nessa sexta-feira (7/2), por buzinas, em um cortejo de vans escolares, que saudou a vida do motorista Adriano de Jesus, 50 anos. O empresário foi assassinado pelo comerciante Francisco Evaldo, 56, seu vizinho, na porta de casa. Pouco menos de 24 horas depois do crime, o autor se apresentou na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte). O advogado de Francisco, Eduardo Castro, alegou legítima defesa, contestação essa descartada pela polícia.

Francisco chegou à delegacia no fim da manhã com a mesma roupa usada no momento do crime: uma calça jeans azul e camisa branca. O comerciante estava foragido. Contra ele, havia um mandado de prisão preventiva expedido pela Vara Criminal de Samambaia. Preso, Francisco está na Carceragem da Polícia Civil. Ele passará por uma audiência de custódia e, até a próxima semana, deve ser transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda.

Eduardo Castro, advogado de Francisco, conversou com a imprensa na porta da delegacia. Afirmou que pedirá a revogação da prisão do cliente e alegou que Francisco apenas se defendeu. De acordo com o advogado, Francisco disse que, momentos antes de atirar contra as vítimas, Adriano teria sujado a lataria do carro dele e pediu para que o empresário limpasse. “O vizinho (Adriano) determinou que ele colocasse nas partes baixas e pediu que ele retornasse para casa. Começou uma discussão mais áspera, e o vizinho (Adriano) sinalizou que estava com uma arma. Acabou que eles entraram em vias de fato e ele (Francisco) recuou, puxou a arma e efetuou os disparos”, disse o advogado.

Sujeira

O depoimento de Francisco foi colhido às 13h. Segundo o delegado-chefe da 26ª DP, Gleyson Mascarenhas, minutos antes de cometer o crime, Francisco foi à casa de Adriano, bateu no portão e conversou com um dos filhos dele, Gabriel Ferreira, 20. Alterado, o comerciante queixou-se sobre a sujeira no carro dele devido ao local onde o micro-ônibus de Adriano estava estacionado.

“Ele retornou para a casa em seguida, buscou a arma e colocou na cintura. Em seguida, Adriano chegou e, a partir daí, deu-se início à discussão”, afirmou o delegado. As câmeras de segurança registraram a briga entre Adriano, Gabriel e Francisco. Em poucos segundos, Francisco saca a arma e atira contra as vítimas, que correm rumo à casa. Adriano foi atingido por quatro disparos, o filho conseguiu escapar dos tiros.

Para a defesa, Francisco atirou ao se sentir ameaçado. “O senhor Francisco me comunicou que o Adriano já derrubou o portão dele uma vez, bateu no carro dele e se negou a pagar”, disse o advogado. A polícia descartou a tese de legítima defesa. “Quando ele sacou a arma, as vítimas correram. É nítido que não houve legítima defesa”, contestou o delegado Gleyson, que acrescentou que o inquérito deve ser fechado em até 10 dias.

Questionado sobre a fuga de Francisco, o advogado defendeu que o comerciante se evadiu para garantir a própria segurança. “Não foi com a intenção de fugir ou de buscar obstruir a Justiça, pelo contrário, assim que ele pôde, me procurou imediatamente para que pudesse se apresentar na delegacia”, explicou.

O advogado afirmou que o acusado ficou na casa de um parente, enquanto esteve foragido. O Correio voltou ao local do crime ontem e tentou conversar com os familiares do autor, que preferiram não se manifestar. Eduardo Castro diz que a família do comerciante tem sofrido ameaças. “Inclusive, tem um policial de plantão na casa, porque corre o risco de alguém invadir e as pessoas que estão lá correm risco de vida. Por fim, o defensor disse que Francisco se mostra arrependido e consternado com a situação. “Ele não desejou que isso acontecesse. Infelizmente ocorreu. Tentou se defender e aconteceu isso. Está triste e decepcionado.”

A arma usada por Francisco pertence ao filho dele, um cabo do Exército. A pistola 9mm de uso restrito — apenas forças de segurança, militares, algumas categorias profissionais e entidades autorizadas podem ter acesso — foi apreendida pela Polícia Civil e estava na residência de Francisco. O filho dele, no entanto, estava no quartel no momento do crime.

Segundo o delegado, o cabo não sofrerá implicações penais, pois não há provas de que o rapaz entregou a arma ao pai. “De qualquer forma, iremos oficializar o Exército”, ponderou. Além dos indiciamentos por homicídio tentado e consumado, Francisco responderá pelo porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, com pena de três a seis anos.

Emoção

O velório de Adriano ocorreu, ontem, das 10h às 15h, na Igreja Imaculada Conceição, em Samambaia. De lá, parentes, amigos e conhecidos seguiram para o Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, onde o empresário foi sepultado. A cerimônia foi marcada por revolta e comoção. Gabriel, o filho mais novo da vítima, segurava com carinho o rosto da mãe, Elaine, enquanto ela olhava o corpo do marido pela última vez antes do enterro.

Ao redor do túmulo, familiares, amigos e até estudantes que Adriano levou por tantos anos à escola, se despediam. Ao som de um violão, eles cantavam música de louvor, em meio a comentários de indignação. “Eu acredito que foi premeditado. Ele (o vizinho) já batia, diversas vezes, no portão da casa da família antes do crime. Tudo indica que foi premeditado, porque ele foi até lá armado”, contou o primo de Adriano, Emanuel Magalhães, 28. “Adriano era uma pessoa que até a voz acalmava a gente. Nunca vi ele brigar, nunca vi ele gritar, nunca o vi nervoso”, conta Claudia Nascimento, 56, amiga de Adriano há mais de 20 anos.

Por Darcianne Diogo, Davi Cruz e Bruna Pauxis do Correio Braziliense

Foto:  Davi Cruz/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense