Os guias de turismo desempenham um papel importante na economia do Distrito Federal, contribuindo diretamente para o fortalecimento do setor de turismo e para a geração de empregos. Atualmente, Brasília conta com 500 profissionais cadastrados no Ministério do Turismo, de acordo com o Sindicato dos Guias de Turismo do Distrito Federal (Sindgtur-DF), onde 100 desses profissionais estão associados.
Além de promoverem os atrativos da capital do país, eles e elas impulsionam a demanda por serviços complementares, beneficiando diversos setores da economia local, como destaca Rafael Lima, porta-voz do Sindgtur-DF. “Guias bem capacitados promovem os atrativos, como a arquitetura icônica de Brasília, os parques naturais e os eventos culturais. Isso atrai turistas que geram demanda em setores como hospedagem, transporte, alimentação e lazer. Além disso, há a valorização da história e da riqueza cultural de Brasília, o que estimula o turismo cultural”, explica.
Eliana Barbosa, 40 anos, atua como guia desde 2010 e acredita que desempenha papel fundamental na experiência do visitante. “Somos otimizadores da experiência do turista. Muitas vezes, indicamos restaurantes, lojas e pontos culturais que o turista dificilmente conheceria sozinho”, afirma. Essas recomendações, aliadas ao acompanhamento e expertise do guia de turismo, segundo ela, garantem que o visitante tenha boas memórias da cidade e, muitas vezes, retorne ou recomende Brasília para outras pessoas.
A profissional relata que o trabalho dos guias frequentemente transforma a percepção dos turistas, que, inicialmente, veem a cidade apenas através do Eixo Monumental e dos prédios governamentais. “Já recebi clientes que disseram que pensavam Brasília de um jeito e, depois do tour, mudaram completamente de opinião. Mostramos que cada escala da cidade tem uma função e que ela é única no mundo”, afirma.
Rafael Lima ressalta que o trabalho dos guias de turismo também é essencial para a gestão e promoção do turismo sustentável em áreas naturais, como o Parque Nacional de Brasília e a Chapada Imperial. “Isso assegura a preservação das belezas naturais enquanto gera oportunidades de renda. Os guias são fundamentais, não apenas para enriquecer a experiência do visitante, mas também para o desenvolvimento econômico e social do DF”, enfatiza.
Embaixadores da cidade
O secretário de Turismo do DF, Cristiano Araújo, reforça a importância dos guias de turismo na valorização da cultura, da história e dos atrativos turísticos locais. “São eles que transformam cada visita em uma experiência enriquecedora, conectando os turistas à identidade única de Brasília. Investir e valorizar esses profissionais é fortalecer o turismo como um motor de desenvolvimento sustentável para o DF”, comenta.
A Setur-DF tem intensificado o apoio a grandes eventos na capital, como shows, congressos, feiras e competições esportivas. A iniciativa visa impulsionar o turismo local, gerando emprego e renda para mais de 50 segmentos do setor, incluindo os guias de turismo. Em 2024, o Distrito Federal recebeu cerca de 60 mil turistas estrangeiros, um aumento de 26% em relação ao ano anterior, fortalecendo o setor e, consequentemente, os guias que atuam na capital. “A realização desses eventos é fundamental para atrair visitantes e movimentar a economia da nossa cidade. Estamos trabalhando para fortalecer Brasília como um destino turístico de referência no Brasil e no mundo”, argumenta Araújo.
Com mais de 40 anos de experiência em Brasília, Lúcio Montiel é uma das principais peças que movem esse motor. Ele destaca o papel crucial do guia como o primeiro ponto de contato do turista com a cidade. “O guia é um embaixador da cidade. Deve ser capaz de representar, apresentar e promover os atrativos turísticos de Brasília”, resume. O conhecimento profundo da cidade é fundamental para orientar os visitantes, oferecendo dicas e recomendações valiosas que impactam diretamente a economia local. Montiel também ressalta a importância da qualificação dos guias para o desenvolvimento do setor turístico. “O turismo é uma indústria, e os guias fazem parte disso. Quanto mais capacitado o guia, maior sua contribuição para o desenvolvimento e o movimento do trade turístico”, completa.
Para os austríacos Andrea e Dieter Irngard, casal guiado por Montiel, a chance de conhecer a cidade com um guia local fez toda a diferença. “É importante ver os locais especiais de Brasília para entender melhor a história da cidade”, afirmaram. Para eles, um guia capacitado permite uma experiência mais autêntica e proporciona detalhes que muitas vezes passam despercebidos para visitantes estrangeiros. “Você pode pegar muitas informações em um livro, mas com um guia local que tenha conhecimento fica muito mais interessante”, acrescentou Irngard.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido Freire, destaca a importância dos guias turísticos na oferta de uma experiência de qualidade aos visitantes. “O papel desses profissionais é essencial para oferecer aos turistas uma experiência imersiva. No DF, temos excelentes guias que atuam em diversos segmentos, como turismo cívico, cultural, religioso, de negócios e ecológico”, observa.
Além de atender turistas de outras regiões, os guias também ajudam os próprios moradores do DF a explorar e valorizar a riqueza histórica, cultural e natural da cidade. “Sem dúvida, essa categoria é fundamental para o fortalecimento do turismo local e para o desenvolvimento econômico”, afirma Freire.
Por amor
Rafael Henrique Santos Martins, 43, se dedica a mostrar o potencial de Brasília sem qualquer remuneração. Ao longo dos anos, morou em outras cidades e fez amizades, sempre compartilhando histórias sobre a capital federal. “Acabei despertando a curiosidade de quem não conhece. Muitos acham que o nosso ‘quadradinho’ não tem nada a oferecer”, afirma.
Ex-motorista de aplicativo, Rafael teve diversas oportunidades de apresentar Brasília a visitantes. “Muitos passageiros, ao conhecerem a cidade por meio da minha ótica, ficaram encantados. Lembro-me de um caso em que um passageiro chegou muito cedo no aeroporto, e eu decidi mostrar a cidade para ele. No mês seguinte, ele me ligou dizendo que voltaria a Brasília a trabalho e traria a família para conhecer. Antes, ele só conhecia o Setor Hoteleiro Norte, o Eixão e o aeroporto. Acabou virando uma grande amizade entre nossas famílias”, conta.
Para ele, alguns pontos são indispensáveis no roteiro dos visitantes. “Quem vem a Brasília não pode deixar de conhecer a Ermida Dom Bosco, o Memorial JK e a Catedral. São sempre os meus locais preferidos para mostrar aos turistas. A capital é uma obra de arte ao ar livre, uma cidade diferente, linda e universal. O mundo inteiro cabe dentro dessa cidade maravilhosa”, conclui.
Por Carlos Silva, Mariana Saraiva e Davi Cruz do Correio Braziliense
Foto: Davi Cruz/CB/DA Press / Reprodução Correio Braziliense