Freire Gomes diz que alertou Bolsonaro a pensar “no dia seguinte”

General nega em acareação que tenha dado ordem de prisão ao ex-presidente, mas disse ter o avisado de consequências jurídicas ao eventual decreto que previa medidas de exceção

Em processo de acareação no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (14), o general Freire Gomes negou novamente que tenha dado uma ordem de prisão ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o militar, na verdade, ele o avisou “das consequências jurídicas do eventual decreto que previa medidas de exceção”.

A acareação é um procedimento feito para esclarecer à Justiça pontos considerados contraditórios em depoimentos, como foi o caso de Freire Gomes e do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.

Ainda segundo o depoimento do general, após essa conversa, Bolsonaro “não voltou mais a tratar do assunto” e teria concordado. Na época, Freire Gomes era comandante do Exército.

“A testemunha esclarece que jamais deu ‘ordem de prisão’ ao então presidente da República, mas sim, que o avisou das consequências jurídicas do eventual decreto que previa medidas de exceção, inclusive alertando ao então presidente que deveria pensar ‘no dia seguinte’, porque uma medida de exceção levaria a outras” aponta o documento do STF publicado nesta tarde, que mostra a íntegra da sessão.

Marco Antônio Freire Gomes foi questionado pelo ministro Luiz Fux, que acompanhou a acareação presencialmente, junto ao também ministro e relator Alexandre de Moraes. O processo todo durou cerca de uma hora e meia e foi feito de forma privada em Brasília.

Ele conta que, após o resultado do pleito de 2022, — quando Jair Bolsonaro saiu derrotado —, não existia qualquer indício de fraude nas eleições e as medidas previstas no esboço do decreto não poderiam ser aplicadas. Se fossem, o presidente da República poderia ser responsabilizado, inclusive com a possibilidade de prisão.

O general classificou a fala como um “aviso” das consequências jurídicas de um eventual decreto que previa medidas de exceção.

O militar adicionou que Bolsonaro não pediu que fossem mantidas pessoas na frente dos quartéis do Exército, onde manifestantes contrários à vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniram.

Quem é o general Freire Gomes

De acordo com a PF, a atitude de Freire Gomes foi “determinante” para que um golpe de Estado no país não avançasse.

Ainda segundo a instituição, além de Freire Gomes, o comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, também teria de manifestado contrário ao plano.

Com a negativa dos dois, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria então procurado o apoio do general Estevam Theóphilo, à frente do Comando de Operações Terrestres (Coter) do Exército, segundo a investigação.

Comandante do Exército no último ano da gestão de Bolsonaro, Marco Antônio Freire Gomes nasceu em 31 de julho de 1957, na cidade de Pirassununga, no interior de São Paulo.

É filho do coronel de Cavalaria do Exército Francisco Valdir Gomes e de Maria Enilda Freire Gomes.

Foi estudante dos colégios militares do Rio de Janeiro e de Fortaleza. Ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), no ano de 1977. Se formou em 1980, sendo declarado aspirante a oficial da Cavalaria.

Por Por Brasília

Fonte CNN Brasil

Foto: Presidência da República e Estadão Conteúdo