“A idade chega e a gente precisa de acompanhamento, precisa estar ativa. Assim a gente fica mais forte.” O relato de Elizabeth Santos, 80 anos, diagnosticada com Alzheimer, resume a importância do cuidado contínuo com a população idosa. No Distrito Federal, esse apoio é garantido pelos ambulatórios de geriatria, que desempenham um papel fundamental na promoção da saúde e do bem-estar na terceira idade. Desde 2019, já foram realizados aproximadamente 56 mil atendimentos especializados em diversas regiões do DF.
Na Policlínica 1 de Ceilândia, que atende entre 130 e 200 idosos por mês das regiões de Ceilândia, Sol Nascente e Brazlândia, os profissionais realizam testes cognitivos, avaliações de risco de depressão, de marcha, visão e audição e até mesmo de obediência. O trabalho conta com o apoio de mestrandos da Universidade de Brasília (UnB), que contribuem com materiais e suporte técnico para qualificar ainda mais o processo de acolhimento.
De acordo com a técnica de enfermagem Fabiene Manso, responsável por essa etapa, após a avaliação é elaborado um relatório que, encaminhado ao geriatra, permite dar continuidade ao acompanhamento clínico. “Além disso, temos implementado um olhar voltado para os cuidados paliativos. É importante reforçar que cuidados paliativos não significam fim de vida, mas sim garantir mais qualidade de vida ao idoso com enfermidades crônicas”, destaca.
Ela também reforça a importância do primeiro contato com os pacientes: “O acolhimento é fundamental. A forma como abordamos o idoso faz toda a diferença. A consulta dura bastante tempo, justamente porque escutamos com atenção, oferecemos um olhar humano, carinhoso. Muitos dizem: ‘Já acabou?’, e perguntam quando será a próxima. Aqui, eles se sentem cuidados de verdade. Os nossos geriatras também atuam com muita empatia e escuta ativa. Às vezes, o idoso só precisa ser ouvido”.
Sobre as principais queixas dos idosos atendidos, os relatos mais frequentes são dor crônica, sintomas de depressão e quadros relacionados ao Alzheimer. O atendimento é personalizado e envolve diferentes especialidades, de acordo com as necessidades de cada paciente. Os idosos podem ser encaminhados para acompanhamento com fonoaudiólogo, nutricionista e terapeuta ocupacional, entre outros profissionais da equipe multidisciplinar.
Segundo a terapeuta ocupacional Lorrayne Rodrigues, o trabalho desenvolvido na Policlínica vai muito além da coordenação motora. “Aqui a gente atua tanto com a musculatura das mãos e dos membros superiores quanto com a reabilitação cognitiva. Trabalhamos memória, atenção, concentração, tudo isso em conjunto. É um trabalho multidisciplinar, especialmente em parceria com a fonoaudiologia”.
Ela explica que o objetivo é proporcionar o máximo de autonomia aos idosos, pelo maior tempo possível: “Queremos garantir que eles mantenham suas capacidades, tanto físicas quanto cognitivas, de forma integrada”.
Além do atendimento clínico, a unidade também oferece oficinas com atividades terapêuticas e lúdicas. “As oficinas surgiram como uma forma de preencher uma lacuna: entre uma consulta e outra, ficávamos muito tempo sem reencontrar o paciente. Essas atividades permitem retomar o contato, estimular o convívio social, oferecer exercícios que podem ser reproduzidos em casa e, principalmente, tirá-los do isolamento”, diz Fabiene.
São realizadas oficinas com quebra-cabeça, argila, massinhas e automassagem, além de momentos com música e atividades conduzidas por fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Em parceria com a UnB, encontros com foco na prevenção de quedas e intervenções de fisioterapia também estão sendo desenvolvidos. “Nosso olhar é holístico. Queremos que o idoso se sinta útil, valorizado, capaz. Aqui, estimulamos que eles não têm limites. É muito gratificante”, ressalta Fabiene.
Cuidado
Mesmo com uma doença progressiva e irreversível, marcada pela perda de memória, Elizabeth sabe da importância do acompanhamento clínico. Logo no primeiro contato com a equipe, sentiu-se acolhida. “Gostei muito. Eles dão atenção, a gente sente que precisa disso, né? Eu gostei mesmo”, conta.
Sobre as oficinas, ela destaca os benefícios para a saúde física e mental: “Eu gosto de participar. É muito bom porque trabalha a mente. A gente fica mais ativa, em vez de passar o dia todo parada. Gosto de ler, de ouvir cantos… Então, quando venho aqui, é muito bom”.
O professor José Batista de Melo, 48, filho de uma das pacientes acompanhadas no ambulatório, conta que a mãe, Luzia Helena de Melo, tem 85 anos e começou a apresentar os primeiros sinais de sofrimento mental ainda nos anos 1980, mas o acesso a cuidados era muito limitado: “Foi só na década de 1990 que ela começou a ter um diagnóstico mais claro, como bipolaridade e depressão. Começamos a entender o que estava acontecendo e buscar ajuda”.
Inicialmente, a mãe foi atendida no Hospital São Vicente de Paulo, em Taguatinga, mas com o tempo passou a receber acompanhamento mais próximo da família, em Ceilândia. “A Policlínica foi uma grata surpresa. Aqui eles oferecem oficinas, atividades que estimulam, ensinam, fazem com que ela se solte mais. Ela gosta de vir, cobra quando não tem ninguém para trazer. Hoje mesmo perguntou: ‘Quem vai comigo?’, e viemos”, relata José.
Desde que começou a frequentar as oficinas, a mãe voltou a se envolver mais com a rotina doméstica e a demonstrar mais autonomia. “Cada vez mais os estudos mostram que manter o corpo e a mente ativos garante uma melhor qualidade de vida. Vejo idosos de 85 anos totalmente lúcidos e atuantes. Isso precisa ser valorizado. Porque todos nós vamos envelhecer, de um jeito ou de outro”, completa o professor.
Por Por Brasília
Fonte Agência Brasília
Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília