Por Camila Coimbra
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Com a chegada da estação chuvosa, a preocupação com o aumento dos casos de dengue em Brasília se intensifica. A combinação de chuvas e temperaturas elevadas cria um ambiente propício para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor responsável pela transmissão da doença. Sem medidas de prevenção efetivas, o número de infectados pode disparar, colocando em risco a saúde da população.
Em 2024, até setembro, foram notificados 316.912 casos suspeitos de dengue, dos quais 281.198 eram prováveis. Dos casos prováveis, 97,9% são residentes no DF. Observa-se que, neste período, houve um aumento de 904,7% no número de casos prováveis de dengue em moradores da capital, em comparação ao mesmo período de 2023, quando foram registrados 27.396 casos prováveis da doença.
Diante disso, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) tem intensificado as ações de combate ao Aedes aegypti. Isso inclui visitas casa a casa, com o objetivo de eliminar focos do vetor, manejo ambiental, ações de mobilização e educação social, bloqueio de casos com o uso de inseticidas, tratamento de focos do vetor com larvicidas e uso de armadilhas de monitoramento de infestação (ovitrampas).
Esse trabalho vem sendo fortalecido com a incorporação de novas tecnologias, como as estações disseminadoras de larvicida, a borrifação residual intradomiciliar e a implementação de um novo sistema de informação para monitoramento das ações de controle vetorial. Com o objetivo de fortalecer as ações de vigilância sobre as arboviroses no Distrito Federal, neste ano foram nomeados 150 Agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (AVAS) e 115 Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
De acordo com a pasta, todas as estratégias de combate ao Aedes aegypti atendem às normativas preconizadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde. Para cada fase, há uma metodologia preconizada. É importante o apoio da população para vistoriar ao menos uma vez por semana o seu quintal e retirar tudo o que possa acumular água, como potes, vasos de plantas e brinquedos das crianças. Até mesmo uma tampinha de garrafa pode ser um local para criadouro do mosquito. Dentro de casa, é preciso observar também as pingadeiras do bebedouro e o degelo atrás da geladeira.
Vacinação
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) aplicou 155.812 doses da vacina contra a dengue desde o início da campanha, em fevereiro de 2024. No entanto, cerca de 84,4% das crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, público-alvo, estão com o esquema vacinal incompleto. De acordo com os dados da pasta, apenas 41,2% tomaram a primeira dose, e 15,6% completaram o ciclo de duas doses. A meta é alcançar 90%.
O retorno da estação chuvosa acende um alerta para que pais e responsáveis levem os jovens a uma das salas de vacinação. “Nesse período, sabemos que o risco da proliferação do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, aumenta significativamente. Então, é importante lançar mão de todas as ferramentas que temos”, afirma o subsecretário de Vigilância à Saúde, Fabiano dos Anjos.
O público de 10 a 14 anos foi definido como prioritário para a campanha de vacinação pelo Ministério da Saúde, devido às elevadas taxas de hospitalização entre pacientes com dengue nessa faixa etária. A SES-DF é responsável por distribuir as doses em sua rede de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e pela aplicação. “Cada uma das salas de imunização conta com profissionais devidamente treinados para garantir um atendimento seguro e eficaz. Estamos comprometidos em proteger a saúde da população“, garante a coordenadora de Atenção Primária à Saúde, Sandra França. Atualmente, há cerca de 45 mil doses em estoque na rede pública.
A SES-DF segue o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, que, até o momento, prevê como público-alvo para a vacinação contra a dengue crianças de 10 a 14 anos. Não há previsão de aumento da faixa etária, pois a intenção do Ministério da Saúde é disponibilizar a vacina para todos os municípios brasileiros antes de ampliar a faixa etária. Segundo a CODEPLAN-2024, a população do DF na faixa entre 10 e 14 anos é de 182.774 pessoas. A Pasta informa que possui cerca de 38 mil doses em estoque e que 40,2% das crianças e adolescentes de 10 a 14 anos já tomaram a primeira dose, e 14% tomaram a segunda.
médica infectologista Joana D’arc Gonçalves da Silva explica que os principais sintomas da dengue incluem febre alta, dores musculares intensas, dor atrás dos olhos, mal-estar, dor de cabeça e, em alguns casos, manchas vermelhas no corpo. Ela observa que, embora existam algumas diferenças clínicas entre as arboviroses, muitas vezes é difícil distingui-las devido à semelhança dos sintomas. Por exemplo, a dor articular e o inchaço nos pés e mãos são mais comuns na chikungunya, enquanto as manifestações hemorrágicas, como sangramentos, estão mais associadas à dengue. No caso da zika, os sintomas tendem a ser mais leves, e a conjuntivite é mais frequente. “O médico deve considerar as doenças que circulam para fazer o diagnóstico, que nem sempre é fácil sem o apoio laboratorial”, ressalta.
Joana também destaca que o melhor tratamento continua sendo o preventivo, que inclui a vacina e medidas não farmacológicas, como o uso de repelentes e roupas que diminuam a exposição do corpo. Além dessas ações individuais, é fundamental que o governo implemente medidas intersetoriais para a prevenção coletiva, a fim de reduzir os criadouros do vetor. Após a prevenção, a médica enfatiza a importância do diagnóstico oportuno e, por fim, do tratamento médico, que deve ser farmacológico, de acordo com a classificação de risco de cada paciente.
“O maior pilar é a hidratação oral e venosa, além do suporte clínico”.
Em relação às chuvas recentes no Distrito Federal, a médica alerta que a população deve redobrar os cuidados. O contato da água com ovos infectados do mosquito Aedes aegypti, depositados em diferentes ambientes até um ano atrás, pode levar à eclosão desses ovos, resultando em novos surtos e epidemias. “A maioria da população sabe que, com o início das chuvas, devemos redobrar os cuidados”, conclui.
Por Jornal de Brasília
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Reprodução Jornal de Brasília