“O empreendedorismo entrou na minha vida por causa de onde eu morava. Eu morava com minha mãe e meus cinco irmãos em um barraco de madeira e via que quem tinha uma casa de tijolo era sempre um comerciante”, diz Veridiana Quirino, que foi criada em uma comunidade em Campinas, São Paulo. Ela passou por uma pobreza extrema, viu a mãe sofrer violência doméstica e lembra ainda hoje a dor de perder o irmão assassinado na adolescência. Hoje, como uma empresária que deve faturar mais de R$ 70 milhões este ano com a sua marca de semijoias, ela conta uma história diferente, marcada por muita resiliência e por um propósito.
O sonho de criança de Quirino de empreender e de melhorar a situação da sua família (que se resumia em sua mãe e cinco irmãos) tomou forma quando Quirino começou a trabalhar em um shopping. “Eu conheci lá um outro mundo, com muitas lojas e pensei: quero ter a minha loja com o meu nome”, lembra Quirino que disse que muitos amigos chegaram a rir daquele sonho.
Atualmente, Quirino é dona da marca “Veridiana Quirino”, que soma 4 lojas físicas e 200 funcionários. “Hoje uma das minhas lojas fica em frente ao meu antigo trabalho onde eu comecei como vendedora”, afirma.
Tudo começou em 2000, quando Querino decidiu começar de uma forma simples, aproveitando a oportunidade que surgiu de uma sociedade com um chinês e encontrou o seu propósito.
“Quando eu corri atrás do dinheiro, o dinheiro corria de mim. Quando corri atrás do meu propósito, ele veio até mim”.
A empresária, que cresceu sem água encanada e luz elétrica, encontrou no empreendedorismo a chance de mudar não só a própria realidade, mas a de toda a sua família — e agora, a de centenas de outras mulheres. Hoje, Quirino tem até uma fábrica própria e um modelo de franquias home based, já presente em mais de 500 cidades.
Da infância sem brinquedos ao sonho de ter uma loja
Nascida em Campinas, Veridiana foi criada pela mãe, que trabalhava como faxineira. O pai abandonou a família, que marcou a infância de Querino por uma vulnerabilidade social em que faltava o básico. “Cozinhávamos numa latinha com álcool e dependíamos dos vizinhos”, afirma.
Aos 11 anos, deixou a escola para cuidar dos irmãos. Ainda criança, vendia pastilhas no semáforo com o irmão Cristiano – que mais tarde foi assassinado. “Esse dinheiro sustentava a casa. Vendi muito, e vi que dava resultado, mas o meu sonho era ter uma loja com o meu nome.”
O primeiro emprego formal chegou aos 17 anos, quando Quirino conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada no shopping Dom Pedro, em Campinas. “Ali foi quando meu mundo se abriu. Era a primeira vez que eu comia no McDonald’s, que eu ia ao cinema. E eu pensava: por que todo mundo pode ter loja e eu não?”, lembra. Foram quatro anos de CLT até conseguir juntar R$ 5 mil e, com um sócio chinês que acreditou em seu sonho, Quirino abriu sua primeira loja de semi-joias aos 21 anos em um bairro de Campinas. “Não consegui abrir de primeiro no shopping, sabia que precisava começar de uma forma mais simples. Mas montei uma loja do meu jeito e ela ficou linda”.
A origem e a expansão da marca Veridiana Quirino
Mesmo com o sonho antigo de ter uma loja com seu nome, Quirino enfrentou o preconceito ao assumir sua identidade. “Quando as pessoas descobriam que eu era a dona, perdia o brilho nos olhos delas. Passei quatro anos fingindo ser a ‘Ana’, vendedora da loja Veridiana Quirino. Era a forma que encontrei de proteger minha marca”, afirma. “Hoje, eu vivo tudo o que eu falava que a tal Veridiana era, como a empresária que viajava para o exterior para ver as tendências”.
O negócio cresceu. Com um olhar atento para vendas e uma gestão humanizada, Quirino apostou em expansão com lojas físicas e venda direta. Mas foi em 2021, com a criação da fábrica em Limeira, interior de São Paulo, que a empresária deu um novo passo. “Queria controlar toda a cadeia e oferecer mais qualidade.”
Hoje, são mais de 200 funcionários, cerca de 3 mil consultoras e quatro lojas físicas em Campinas e Sorocaba — incluindo uma no shopping Dom Pedro, exatamente em frente à loja onde Veridiana começou a carreira como vendedora.
Franquias home based: impacto social e crescimento rápido
No último ano, Veridiana formatou um novo modelo de negócio: franquias home based, voltadas especialmente para mulheres que desejam empreender sem capital inicial. A meta era formar 100 consultoras em um MVP – hoje, são 590. “Elas não precisam investir nada, e já conseguem retorno no primeiro mês. Recebo mensagens dizendo que estão pagando escola, plano de saúde, mudando de vida”, conta.
Esse formato já está presente em estados como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. E a ambição não para: até o fim de 2025, a expectativa é chegar a 700 franquias, o que deve representar cerca de 30% do faturamento.
“Quero que esse projeto se torne uma escola de empreendedorismo. Quando uma mulher dá certo, ela puxa a família junto. O sucesso feminino é coletivo.”
Saúde mental, maternidade e equilíbrio
Mãe de um menino de 6 anos, Quirino faz questão de cuidar da saúde física e emocional. “Se eu não estiver bem, não consigo cuidar de tudo. Faço exercícios, faço terapia e incentivo isso na empresa. A gente tem até grupo com premiação para quem se exercita”, diz.
Apesar de uma rotina intensa, ela mantém a leveza. “Tem dia que sou a melhor mãe e a pior empresária. No outro dia, sou a melhor empresária e a mãe que ficou devendo. Mas a gente vai equilibrando como pode.”
A vontade de mudar a vida da família também fez parte do sonho de Quirino. Hoje, ela já pode dar uma casa própria para a mãe e ajudou a irmã e fazer uma faculdade. “Ela é a primeira pessoa da família a ter uma graduação. Fico feliz de viver o meu propósito, que sempre foi de ajudar a minha família”, diz.
Projeções para o futuro
Com faturamento de R$ 50 milhões em 2024, a empresa deve fechar 2025 com R$ 70 milhões e projeta R$ 90 milhões para 2026. A maior aposta, segundo Quirino, são as franquias home based — que têm margem melhor, escalabilidade e propósito.
“Eu não fiz faculdade, mas sou apaixonada por gente. Já passaram mais de 400 funcionários pela empresa e só tive um processo trabalhista, que a pessoa perdeu. Faço questão de ouvir, treinar e valorizar quem está comigo”, afirma. “Quero que surjam muitas Veridianas por aí.”
Por Por Brasília
Fonte Exame.
Foto: Veridiana Quirino /Divulgação