“A arte salva, cura, resgata; ela toca em lugares, profundidades e sentimentos que recuperam e ajudam todas as pessoas.” Com esse pensamento, Maregilbe Cavalcante, gastrônomo e professor aposentado, tem frequentado a oficina de cerâmica do projeto SustentArt: Capacitando Gerações por Meio da Arte. Para ele, trabalhar com argila é arteterapia, cuidado e criatividade. Essa é a essência da iniciativa organizada pelo Centro de Artes de Brasília, na Vila Telebrasília.
O SustentArt é financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF) e tem como objetivo abrir caminhos para a economia criativa e oferecer oportunidades reais de desenvolvimento pessoal e coletivo, por meio de ações culturais, para jovens e adultos entre 18 anos e 60 anos de idade.
Ao todo, 70 alunos vão poder participar das oficinas gratuitas de formação básica nas áreas de pintura, desenho e processo criativo, objetos de arte e arteterapia, cerâmica, mosaico, xilogravura e música, que já começaram em 4 de agosto.
A professora e escritora Sylvia Simão, colega de Maregilbe na oficina de cerâmica, atesta a transformação proporcionada pela iniciativa na vida dos participantes. Ela acredita que projetos como o SustentArt funcionam como apoio emocional para pessoas em situação de instabilidade, que passam por mudanças nas fases da vida.
“É muito importante que sejam disponibilizadas as iniciativas sem custo porque, em geral, quem está passando por esses problemas não está profissionalmente estável e não tem como arcar com os custos”, observou.
Para o fisioterapeuta Gabriel Lavoura a superação é física e pessoal. Na primeira tentativa de desenhar com apoio profissional, ele afirma que aprendeu muito mais sobre como ver a vida com mais sensibilidade, luz, sombra e cor. “Eu não enxergava a vida dessa maneira. Acho que dou conta, mas cheguei aqui achando que não ia dar. Estou na minha segunda aula e muito satisfeito e confiante”, relatou.
As oficinas são realizadas uma vez por semana em cerca de 4 horas de formação. Cada participante pôde se inscrever em apenas uma modalidade para que outras pessoas também fossem contempladas no projeto. As vagas foram prioritárias para pessoas de baixa renda, negras, indígenas, com deficiência, LGBTQIAP+ e mulheres em situação de vulnerabilidade.
“A gente costuma dizer que, dentro dos objetivos de desenvolvimento sustentáveis (ODS), o SustentArte está muito presente e é importante. Ele gera Felicidade Interna Bruta (FIB) porque trabalha projetos sociais mais a geração de renda e de trabalho, além da sustentabilidade. Mas nós não fazemos nada sozinhos. Então, buscamos patrocinadores, apoiadores, investidores e agora contamos com o FAC, que foi quem acreditou, de fato, no nosso projeto”, ressaltou a coordenadora do Centro de Artes, Lídia Henrique.
Para as aulas, todos os arte-educadores e assistentes convidados da iniciativa já são cativos do espaço. “Essa é uma oportunidade para eles, que são renomados no mercado, com excelência de currículo e portfólio, terem a oportunidade de também fazer parte do FAC. Com isso, estamos incentivando a mão de obra, a geração de trabalho, não só das pessoas aqui da Vila, como também do próprio Centro de Artes”, completou.
Ao todo, serão seis meses de formação e, após esse período, haverá curadoria das peças e obras produzidas pelos participantes para uma exposição, de divulgação e venda, na galeria MD’Azevedo, do próprio centro, em março de 2026. Também será impresso um catálogo com as obras e realizado um evento aberto ao público com apresentação musical.
Quase 50 anos
São cerca de cinco décadas de uma história que começou ainda na sala de aula de uma universidade do DF. Gildred Nascimento foi de aluna a professora de artes até idealizar, com o marido Manoel de Azevedo, um artista plástico português, o Centro de Artes. Fundada em 1978, a escola ganhou lugar na Vila Telebrasília em 2013.
Em 47 anos de existência, o Centro já recebeu mais de mil alunos, inclusive artistas plásticos importantes do Distrito Federal para o mercado das artes ou trabalhos independentes. O espaço segue o legado de formação e democratização do acesso à cultura, fortalecendo a identidade cultural da Vila, fomentando a inclusão social e formando novos públicos para as artes visuais.
Por Por Brasília
Fonte Agência Brasília
Foto: Matheus H. Souza/Agência Brasília