Infecção por dengue atinge mais mulheres no Distrito Federal

Dados apontam que público feminino registra mais de 104 mil casos da doença, 20 mil a mais do que os homens, que totalizam 189 mil

As mulheres têm sido as maiores vítimas da epidemia de dengue no Distrito Federal, em 2024. Dados da Secretaria de Saúde (SES-DF) registram mais de 104 mil casos prováveis de dengue em pessoas do sexo feminino contra cerca de 85 mil do masculino. O Correio conversou com mulheres que, diagnosticadas com a doença, relataram haver sofrido tanto com os sintomas que chegaram a temer por suas vidas.

Para o infectologista André Bon do Hospital Brasília não existe explicação biológica, ou algum estudo científico, que justifique a predileção do Aedes aegypti pelas mulheres. “Um dado clássico na medicina é que mulheres buscam mais atendimento médico do que os homens. Por isso, a possibilidade é de que vai ter mais diagnóstico de dengue entre elas”, disse.

Quando se viu vítima da arbovirose (mal causado por insetos) em março passado, a aposentada Rita do Carmo Torres, 67 anos, moradora de Taguatinga, pensou no pior. Os primeiros sintomas (intensa dor de cabeça e contínuos calafrios) indicaram que havia contraído algo que não se parecia em nada ao mesmo diagnóstico que recebeu há dez anos pelo mesmo motivo.

“O meu corpo e a parte de trás dos meus olhos doíam muito. Nada do que eu comia permanecia no meu estômago”, contou. Isso a fez procurar o hospital no segundo dia de mal-estar. Teve a confirmação do diagnóstico que vinha acompanhada de uma notícia ruim: suas plaquetas sanguíneas estavam em níveis baixos, numa situação que poderia levá-la à morte se providências rápidas não fossem tomadas. Rita foi internada imediatamente e permaneceu assim até que o quadro se normalizasse. A aposentada admitiu que teve medo de perder a vida devido a complicações com a dengue.

“Eu costumo falar que a dengue é uma doença que te deixa ‘morta-viva’. Não dá nem para raciocinar. É como se você já estivesse morta. É terrível”, assegurou.

Câmbio de papéis

Renata Morais, 40, agente comunitária de saúde e moradora do Riacho Fundo 2 também relatou que sentiu a mesma angústia de ter a vida ameaçada. Mas, não a dela e sim a de sua mãe Felícia Morais, 72, a quem descreveu como “ativa, orientada e saudável” até antes dela adoecer. A aposentada ficou em estado tão crítico que sequer conseguia se levantar sozinha da cama.

Felícia foi diagnosticada com dengue na segunda-feira da semana passada, na Unidade Básica de Saúde da região administrativa onde filha mora. Recebeu hidratação e foi autorizada a voltar para casa. Porém, tudo mudou três dias após o primeiro atendimento. A mãe vomitava muito, não conseguia se alimentar e nem ingerir líquidos. A situação foi se agravando e Felícia acabou internada, na última sexta-feira, no Hospital de Campanha (Hcamp) da Força Aérea Brasileira (FAB), em Ceilândia, onde recebeu alta nesta quarta-feira (3/4).

Renata contou ao Correio que Felícia estava voltando para casa, mas com muita fraqueza. “Eu fiquei com muito medo, ainda mais pela idade dela. Ela faz fisioterapia, pilates, é ativa e orientada, e costuma caminhar muito. Mas, nesses últimos dias não conseguiu nem se levantar sozinha da cama”, lembrou a agente comunitária.

Júlia Fernandes, 21 anos, moradora do Guará, contou que — devido à dengue — teve algo grave: vômito com sangue, no último sábado (30). Por isso, acabou internada no HCAMP por três dias.

“Eu sabia que o sangue é um sinal de alarme, então, quando eu vi que estava sangrando, decidi procurar atendimento no hospital”, explicou Júlia, agora melhor.

Nova arma

A SES-DF treinou 60 militares do exército para aplicar um novo tipo de inseticida — o aero system — contra a dengue em residências. A ação, complementar ao fumacê, pretende eliminar formas adultas do mosquito Aedes aegypti.

Segundo a pasta, cada soldado poderá realizar seu trabalho em até 80 casas, diariamente. Eles começaram a agir nesta quarta-feira (3/4), no Setor O, em Ceilândia.

Por Letícia Guedes do Correio Braziliense

Foto: Letícia Guedes/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense