Instituições para acolhimento de pessoas idosas precisam de ajuda

Pessoas idosas atendidas contam suas histórias, como é o dia a dia e o que querem ganhar no Natal. Entidades que fazem atendimentos precisam de doações para continuarem o trabalho

0
117

Com longos brincos, batom vermelho e unhas pintadas, Maria Antônia Barbosa, 76 anos, chegou sorridente à sala de visitas do lar de idosos Crevin (Comunidade de Renovação, Esperança e Vida Nova), em Planaltina. Vaidosa, ela deseja ganhar, neste Natal, um perfume e um vestido “tubinho”, tamanho G. “Todos os dias gosto de me embelezar e faço essa produção toda sozinha, acredita?”, conta, se referindo à maquiagem. Esse foi um dos vários pedidos feitos por idosos atendidos em casas de acolhimento no Distrito Federal.

Simpatia, alto astral e independência são atributos que fazem parte da sua personalidade. Prova disso é que, há 20 anos, decidiu mudar-se para a instituição em busca de um cantinho calmo e confortável. “A gente tem que dar valor ao que tem, né? Ficar em casa de parente só dá certo enquanto temos utilidade”, avalia.

Com um pacote de livros de mão e atento ao relato de dona Maria Antônia, o aposentado José Haroldo Saraiva, 70, revelou também gostar da tranquilidade do lar. Não se recordou há quanto tempo está no espaço, mas contou que a decisão se deu quando, morando de aluguel, percebeu que não tinha um “lugar certo” para viver.

Ex-funcionário da antiga Fundação do Serviço Social do DF, Haroldo, como gosta de ser chamado, sempre apreciou a leitura. Seus autores prediletos são Millôr Fernandes e João Cabral de Melo Neto. “Os livros de aventura e de poemas são os meus preferidos. Sou meio poeta, sabe? Também leio notícias sobre política, mas apenas para ficar bem informado”, acrescenta. Neste fim de ano, o presente dele não poderia ser outro: um bom livro.

Inaugurado em 2000, o Crevin abriga 36 idosos — 18 homens e 18 mulheres — e tem cerca de 200 interessados aguardando vagas. Muitos não têm família ou, quando têm, vivem em situação de vulnerabilidade. A principal fonte de arrecadação da instituição são as doações de mantimentos, roupas, remédios e equipamentos, conforme comentou a gerente administrativa Lucicleide Moura, 56. Os voluntários também organizam bazares, oficinas de desenhos e momentos de distração, com danças e músicas.

Ainda assim, o aperto financeiro é uma constante. “Precisamos de recursos para reformar os banheiros, pintar as camas, instalar campainha nos quartos e pagar as contas de energia”, elencou Lucicleide.

Como ajudar

Casa Viva – Serviço de Acolhimento Institucional para Pessoas Idosas

Endereço para doações: QNF 24, Área Especial 02 – Taguatinga Norte

Contato: (61) 3773-7590

Doações: itens de higiene, roupas e calçados

Comunidade de Renovação, Esperança e Vida Nova (Crevin)

Endereço: Avenida Floriano Peixoto Q 63 Lt 12, em Planaltina

Contato: (61) 3389-9448 e 99671-0018

Chave PIX: 01.600.253/0001-69 (CNPJ)

Casa do Candango — Lar São José

Endereço: Qd 14 Ae 17/18 , em Sobradinho

Contato: (61) 3591-1051

Doações de fraldas geriátricas

Chave PIX: 00077552/0001-06

Recursos insuficientes

Na Casa do Candango — Lar São José, em Sobradinho, as doações da comunidade também são uma mão na roda. “Eu me surpreendo com o tanto que os moradores da região são generosos. E a maioria nem gosta de se identificar”, comentou Wellington Cassimiro, 54, coordenador administrativo do espaço. Porém, com 50 idosos acolhidos, os recursos para grandes reformas são escassos.

Até outubro de 2024, a meta é reformar quartos, sala de TV, lavanderia e cozinha, conforme o plano de melhoria contínua da Casa. “Recebemos recursos do GDF, mas não são suficientes. Basta pensar que, por dia, servimos 300 refeições. Nesse contexto, nossa maior dificuldade é adquirir proteína animal”, explicou. A fila de interessados por vagas é gerenciada pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras).

Há quatro anos na Casa do Candango, Elizabete dos Santos, 73, gosta de pintar quadros e não perde um bom forró. “Já ganhei um rádio, graças a Deus. Então, agora só gostaria de um sapato novo, azul ou preto, como este que estou usando, tamanho 36”, disse, apontando para o calçado modelo clogs.

Situação de rua 

Na Casa Viva, em Taguatinga, que presta serviço de acolhimento a pessoas idosas, a refeição é oferecida pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes). O foco do espaço é a autonomia dos usuários, que precisam receber doações de itens de higiene, roupas e calçados. 

Há oito meses no local, o piauiense de Jerumenha, José Francisco de Sousa, 61, cita que o acolhimento recebido pelos funcionários da unidade, com seis refeições diárias é o maior presente que ele pode receber neste Natal. “Vim e voltei para Brasília quatro vezes. Nesse período, virei alcoólatra e fiz alguns bicos. Eu estava em um estado de vulnerabilidade social, e tenho que agradecer muito à entidade pelo apoio”, afirma.

Com cinco filhos, no Piauí e Maranhão, José emociona-se ao fazer um pedido especial neste Natal. “Queria mesmo é reconhecer os meus filhos, porque faz muitos anos que não tenho contato com eles. Não sabem que estou aqui. Mas tenho, café, lanches, almoço, jantar e ceia. Se precisar de encaminhamento ao médico, consigo. Quando terminar meu tratamento para tratar a pouca circulação de sangue nas pernas, vou procurar um emprego no DF”, almeja José.

Segundo a gerente da Casa Viva, Elissandra Leão, o espaço acolhe idosos em situação de rua, os que não têm onde morar e solicitaram vaga à Sedes. “Eles têm refeições e acompanhamento psicossocial. Nosso trabalho é fortalecê-los para ir à terra de origem, quando é possível, ou eles terem uma vida independente”, explica a gestora.

Com uma equipe especializada formada por assistentes sociais, psicóloga e educadora, o local está com lotação máxima — 35 pessoas idosas, mas tem uma rotatividade frequente. A unidade ainda conta com plantonistas, entre cuidadores, agentes sociais e auxiliares.

Um dos atendidos é Daniel Pereira da Silva, 73, nascido em Goianésia-GO, mas que veio de Água Boa-MT para Brasília em julho deste ano. Há dois anos, quando um carro o atropelou, ele quebrou o joelho direito e o quadril. Além disso, teve derrame cerebral, que deixou os pensamentos e fala dele lentos. “Fiquei 12 dias na Rodoviária do Plano Piloto e assistentes sociais me levaram para o Cras do Areal, e me transferiram para cá”, recorda.

Sentado e apoiando as mãos no andador, Daniel fala da saudade que tem das duas filhas, que moram em São Félix do Xingú (PA). Ele espera por uma cirurgia em algum hospital do DF e seu sonho é voltar a andar como antes. “O maior presente para mim é fazer a cirurgia e colocar uma prótese. Conversei com o médico e eu disse que estou pronto. Vamos ver o que Deus vai reservar para mim”, finaliza.

Por Letícia Mouhamad, Pedro Marra do Correio Braziliense

Foto: Letícia Mouhamad/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense