Ter um parto humanizado vai além de estar dentro de uma banheira cheia de flores. Seja dentro da água ou apoiada em uma banqueta, esse é um momento que coloca a mulher como centro de suas escolhas do início ao fim dessa jornada mágica que é colocar um ser vivo no mundo confiando apenas na fisiologia humana.
“O parto humanizado é aquele que coloca a mulher como protagonista, respeitando sua autonomia, acolhendo e trazendo suporte emocional. É importante uma equipe multidisciplinar alinhada com o plano de parto da paciente, que tenha conhecimento das escolhas que essa mulher deseja no decorrer do parto para oferecer esse ambiente acolhedor”, declarou o ginecologista e obstetra Caio Couto, responsável pela Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Anchieta de Brasília.
O profissional ainda ressaltou que é possível humanizar o parto em qualquer situação, sem se prender à ideia do senso comum. “Muita gente acha que é um parto normal feito na banheira com música, quando na verdade, pode ser na banheira, na ducha ou de cócoras na banqueta, por exemplo”, enumerou.
A doula Ana Gabriela Carneiro, 25 anos, explica que o parto tem que ser respeitoso, independentemente do cenário, e a importância disso é que a mãe tem um processo muito menos traumático. “Ela entende que é um processo fisiológico, que é algo natural e que o corpo dela sabe o que fazer. As doulas resgatam com elas essa coisa da ancestralidade, de quando antigamente as mulheres pariam dentro de casa, sem intervenção”, explicou a profissional, que atua há quatro anos e assistiu mais de 100 mulheres. Ela ressaltou que toda mulher sabe parir e todo bebê sabe nascer, mas o segredo é ter o respeito no momento do parto. “Isso determina como vai ser o pós-parto dessa mulher”, acrescentou.
Para Ana Gabriela, uma mulher com um parto respeitoso tem menos chances de adquirir depressão pós-parto e terá uma amamentação mais tranquila. “A falta de humanização causa muitos riscos tanto para mãe quanto para o bebê”, alertou. E, para o recém-nascido, também é necessário uma assistência respeitosa. “Esse bebê que chega precisa estar no colo de quem o gerou por nove meses, ela tem o calor necessário. O respeito a essa vida é fundamental”, concluiu.
Dor sem sofrimento
No Distrito Federal, existe a casa de parto pública de São Sebastião. Filho de Kathleen Nátalie, 24, João Alexandre nasceu lá, em 7 de maio de 2019. A mãe contou ao Correio que, desde que descobriu a gravidez, começou a pesquisar com o marido, João Paulo, e descobriram um barco com a mulher como protagonista e com respeito ao processo fisiológico. “Não tivemos dúvidas de que era isso que buscávamos. Então, estudamos bastante sobre as intervenções, intercorrências, hospitais e todos os meios que tínhamos para nos resguardarmos e, assim, conseguir nosso parto humanizado”, explica.
Para ela, as vantagens são inúmeras, desde a liberdade de se movimentar, verbalizar e se alimentar. “Tive uma recuperação muito tranquila e uma experiência muito positiva com o parto. O meu bebê nasceu dentro de um ambiente de respeito, onde não teve intervenções desnecessárias e nossos momentos foram preservados, o que garantiu um vínculo muito saudável entre nós dois”, garantiu Kathleen.
Essa mãe sempre se lembrará do parto com muito carinho. “Digo para todas as mulheres que a informação liberta e que dor é muito diferente de sofrimento. O parto dói, mas é um processo, que se passado com respeito, pode ser muito leve e gratificante. E digo com muita propriedade que é possível ter um parto humanizado pelo SUS. Minha experiência foi extremamente positiva. Se cada cidade pudesse ter uma casa de parto, muitas mulheres seriam beneficiadas”, finalizou.
A servidora pública Ana Paula Leão, 28, teve seu primeiro filho, Samuel, em 2021, e o segundo, Saulo, em janeiro deste ano. Os dois chegaram ao mundo por meio do parto humanizado realizado pelo Instituto Nastere de Assistência ao Parto no Hospital Santa Helena. “Eu sempre quis viver a experiência do parto normal. Então procurei uma equipe que me incentivasse e me acolhesse nesse processo. E com eles eu sabia que eu teria isso independentemente da via (cesárea ou vaginal) que resultaria na chegada dos meus filhos”, contou.
Para Ana Paula, entre as vantagens do parto humanizado, há a possibilidade da participação ativa do marido, Guilherme Lima, 33, que pôde viver o momento junto com ela. Além do vínculo emocional criado no primeiro contato, começou a amamentação nos primeiros minutos de vida. “Foi um parto dolorido, mas não houve sofrimento. Foi o momento mais especial da minha vida, que eu sempre vou guardar com muito carinho. Queria que todas as mães tivessem um parto tão respeitoso quanto o meu”, descreveu a mamãe.
A casa de parto pública de São Sebastião teve, em janeiro, 47 partos humanizados. A maioria dos nascimentos assistidos pela doula Ana Gabriela foram na rede pública de saúde. “Amo atuar no SUS. Acredito que todas as mulheres merecem parto humanizado, que precisa chegar também às pessoas que não têm condições de arcar com os custos”, finalizou.
*Com Fernanda Cavalcante, estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti
Por Mariana Saraiva do Correio Braziliense
Foto: Pixabay/Reprodução / Reprodução Correio Braziliense