Com as festas de fim de ano, bem como a chegada do carnaval, a meta de coleta de doações de leite materno para o primeiro mês de 2024 ficou abaixo do esperado. Os bancos de leite humano da capital contaram com doações que alcançaram 82% do objetivo de estocar dois mil litros de leite por mês e, segundo especialistas, questões como o período de férias e o aumento dos casos de dengue contribuíram para essa queda.
Segundo dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde do DF (SES), foram coletados 2.000 litros em outubro do ano passado. Depois, 1.750 em novembro e 1.580 litros em dezembro. Janeiro fechou com apenas 1.500 litros de leite coletado. “A meta são 2000 litros por mês. Em média, 250 bebês são atendidos por dia com leite humano pasteurizado”, pontua Mariane Curado, Coordenadora das Políticas de Aleitamento Materno da SES DF.
Na avaliação de Mariane, o baixo número de doações foi acarretado pelo contexto em que o DF se encontrava nos últimos dois meses. “Durante o período de férias, há uma queda no volume de leite doado, porque muitas doadoras viajam. Este ano, percebemos uma acentuação devido à proximidade com o Carnaval e ao agravante da dengue, com muitas doadoras contaminadas”, argumenta. Vale destacar, contudo, que mesmo em casos de dengue é possível realizar a coleta do leite. Como garante a especialista, qualquer mulher saudável que esteja amamentando pode ser doadora. “A dengue não é uma contraindicação, pois é feito o acompanhamento da saúde dessa mulher no próprio banco de leite”, garante.
Alimento que vale ouro
Atualmente, o DF conta com 14 bancos de leite humano, sendo dez da Secretaria de Saúde, um federal (Hospital Universitário de Brasília/HUB) e três privados. Há, ainda, sete postos de coleta (três da rede pública e quatro da privada). Estes operam de forma conjunta, atendendo tanto bebês da rede pública quanto privada. “O leite materno é de extrema importância para o desenvolvimento saudável dos bebês nos primeiros meses de vida. Ele fornece todos os nutrientes essenciais que o recém-nascido precisa, além de conter substâncias que promovem o fortalecimento do sistema imunológico e protegem contra infecções e doenças”, salienta Mariane. Por fim, ele ainda é facilmente digerido, o que reduz o risco de alergias alimentares e problemas gastrointestinais.
Conforme explica a coordenadora, a principal diferença entre o leite materno e o leite comum está na composição. “O leite materno é especificamente adaptado às necessidades do bebê em crescimento. Ele contém uma variedade de nutrientes, anticorpos, enzimas e hormônios que não estão presentes no leite de vaca, por exemplo”, desenvolve. O alimento também possui ácidos graxos essenciais que são cruciais para o desenvolvimento do sistema nervoso e cerebral.
O leite materno é considerado o alimento padrão ouro para os bebês, pois contém água e todos os nutrientes necessários para alimentar exclusivamente o recém-nascido até os seis meses de vida, sem que seja preciso introduzir outros alimentos ou líquidos. Se tratando, especialmente, dos prematuros e bebês hospitalizados, ele desempenha um papel crucial, haja vista que uma única dose de 350 ml é capaz de salvar até dez bebês, por exemplo. “Os bebês que recebem leite do banco de leite são aqueles que estão impossibilitados de mamar na própria mãe por um tempo: por exemplo prematuros extremos ou quando nascem com alguma doença”, esclarece Mariane Curado. “Sempre damos preferência para o leite da própria mãe, mas quando isso não é possível o alimento preferencial é o leite materno doado”, elucida a profissional.
Por essa razão, a SES está constantemente promovendo campanhas de doação de leite materno em suas redes sociais. Além disso, diariamente, a equipe dos Bancos de Leite faz a captação de doadoras em todas as maternidades.
A investigadora de polícia civil, Luana de Ávila, já doou leite e conta ao JBr que vê o ato como um gesto de amor. “Nós pensamos que o corpo é um depósito de leite, mas na verdade não é. O corpo é fábrica de leite: se você tirar não faltará para seu filho, o corpo produzirá mais. Faltam informações para as gestantes sobre esse processo de amamentação. Isso deveria ser mais desenvolvido no pré-natal e nos cursos”, comenta.
Luana salienta ainda a questão psicológica da mãe que não consegue amamentar, e o quanto o alimenta doado às ajuda com essa questão. “As mães ficam psicologicamente muito pressionadas com essa questão, então toda a rede de apoio à amamentação é crucial no puerpério para que isso flua bem. A doação quando essa amamentação natural acaba não acontecendo alivia o peso da mãe de não ter conseguido por si e ainda assim possibilitar a nutrição do RN com leite humano”, acrescentou a servidora.
Assim como a policial civil, Maria Fernanda Portela também é doadora e conta que, desde a maternidade, as enfermeiras já lhe orientavam a ser doadora. “Tenho muito mais do que meu filho precisa e então decidi ajudar outros bebês da forma que posso”, ressalta. Hoje, o filho de Fernanda, de 21 anos, tem 5 semanas de vida e ela já realizou a doação 3 vezes.
Como doar
A mulher interessada deve se cadastrar pelo Disque Saúde 160, opção 4, ou pelo site. Após o requerimento, o banco de leite entrará em contato para fornecer as orientações de coleta. O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) realiza semanalmente o recolhimento em domicílio do leite e fornece novos frascos para a continuidade das doações.
Confira o passo a passo listado por Mariane:
1.Procure tirar o leite em um lugar limpo e tranquilo da casa.
2.Use potes de vidro com tampa plástica.
3.Ferva os potes por 15 minutos e deixe que sequem sobre um pano limpo.
4.Use uma touca ou um lenço na cabeça.
5.Coloque uma máscara ou amarre uma fralda sobre o nariz e a boca.
6.Lave as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água e sabão.
7.Lave as mamas apenas com água.
8.Seque as mamas e as mãos com um pano limpo.
9.Massageie os seios com a ponta dos dedos, com movimentos circulares, e inicie a coleta diretamente no pote.
10.Encha o pote até faltarem dois dedos para completá-lo e, caso seja necessário, recomece uma nova coleta em outro pote higienizado.
11.Identifique o pote com seu nome e a data em que retirou o leite pela primeira vez. Para completar um pote que já está no congelador, faça a coleta em um copo de vidro e depois despeje no pote.
12.O leite pode ficar até 10 dias no congelador ou no freezer.
13.Para agendar a coleta, ligue no número 160, opção 4.
14.O Corpo de Bombeiros buscará a doação em sua casa
Por Jornal de Brasília
Foto: Mayra Dias/Agência Brasília / Reprodução Jornal de Brasília