Força feminina impulsiona o agronegócio no Distrito Federal

Mulheres se destacam à frente de produções agrícolas. Na capital do país, a presença delas cresceu 60% entre 2019 e 2023 no setor rural. Especialistas reconhecem os avanços, mas pontuam a necessidade de mais equidade de gênero na agricultura

Há um forte protagonismo das mulheres no campo no Distrito Federal. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), entre 2019 e 2023, houve um aumento de 60% no número de mulheres envolvidas com atividades agropecuárias na capital do país. Elas atuam em diversas cadeias produtivas, como bovinocultura, floricultura, olericultura, agricultura orgânica e também atividades não agrícolas, como artesanato, turismo rural e agroindústria.

Um exemplo é a produtora rural Tânia Aguiar, 52 anos, que trabalha há oito anos com sistemas agroflorestais, na linha de frente de sua produção de hortaliças e hortifruti no assentamento Canaã, em Brazlândia. “É fundamental que a mulher tenha liberdade para buscar sustento e qualidade de vida para sua família, seja em qual área for”, defende. “Aqui na propriedade, conto com a ajuda do meu filho Emerson Victor, de 19 anos, mas estou à frente em todos os aspectos, seja na parte burocrática, seja na roça colocando a mão na massa”, acrescenta.

Tânia trabalha no sistema de agricultura familiar, quando a produção usa a mão de obra da própria família e a condução do empreendimento é realizada por integrantes do mesmo núcleo. Além de comercializar os produtos semanalmente, em feiras no Plano Piloto, a produtora rural faz parte da Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) Paulo Freire, um movimento mundial que reúne agricultores e consumidores para trabalhar em conjunto na produção e distribuição de alimentos orgânicos e agroecológicos. A distribuição dos produtos orgânicos é feita diretamente entre agricultores locais e consumidores. As duas partes dividem responsabilidades, riscos e benefícios da produção agrícola. As famílias que fazem parte da comunidade oferecem um valor mensal para cobrir o custo de produção e recebem mensalmente o que é produzido.

Outra agricultora que também trabalha com o sistema de CSA é Fátima Cabral, 65 anos, produtora rural há 22 anos no núcleo rural do Pipiripau. Ela faz parte da CSA Pé na Terra, que reúne produtores de Brasília e Formosa. Fátima cultiva frutas, verduras, legumes, temperos, raízes, entre outras, e observa que, de alguma forma, as mulheres estão presentes em todas as produções rurais. “No meu caso, eu estou à frente, cuido da terra, do solo, da água e da produção como um todo. Mas, sem as mulheres, não há produção no campo”, afirma. “É bem desafiador, assim como muitos segmentos, mas vale a pena. Na minha propriedade, tenho apoio do meu filho, nora e três colaboradores”, completa a agricultora.

Extensionista rural da Emater-DF, Selma Tavares explica que o órgão desenvolve atividades voltadas à mulher no campo. “Nós buscamos, especialmente, dar autonomia a elas, priorizando-as nas políticas públicas de compras governamentais e fomentos. Temos um atendimento global e o que se vê é o crescimento da atuação delas no campo”, enfatiza. “No DF, vemos um crescimento na área da floricultura e agricultura orgânica. Elas estão se tornando mais visíveis nessa área. Ainda existem muitos desafios a serem vencidos, principalmente na questão social. Políticas públicas inclusivas também precisam de avanços”, pondera.

Por Mila Ferreira do Correio Braziliense

Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense