“A partir de 2050 nós vamos ter mais pessoas recebendo aposentadoria no INSS do que contribuindo. Ou seja, essa conta não fecha”, diz Ângela Assis, presidente da Brasilprev, durante o podcast “De frente com CEO”, da EXAME.
O dado foi divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que mostra que em 2051, serão 61,3 milhões de aposentados e pensionistas e 60,7 milhões de contribuintes. Outro dado da Confederação Nacional de Serviços (CNS) projeta que entre 2050 e 2060, o Brasil terá apenas dois contribuintes para cada beneficiário do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Atualmente, essa proporção é de cerca de cinco para um. Segundo a CEO da Brasilprev, mais do que nunca o brasileiro precisa conhecer como funciona a previdência privada, que pode ser um complemento de estabilidade financeira diante da longevidade crescente da população e da queda na taxa de natalidade.
À frente da Brasilprev desde 2020, Ângela – a primeira mulher a assumir o cargo na história da companhia – tem apostado em tecnologia, novos produtos e educação financeira para ampliar o acesso da classe média à previdência complementar.
“Viver mais é uma conquista, mas significa também maiores gastos, principalmente com saúde. É preciso preparo financeiro para isso”, afirma a CEO. “A inflação da terceira idade é, em média, 20% maior do que a inflação geral”.
À EXAME, ela comenta sobre o desafio da previdência privada, mas também fala sobre a sua trajetória profissional e lições de liderança que a ajudaram a chegar ao topo da companhia.
A origem marcada pelo protagonismo feminino
Mineira de Uberaba, filha mais nova de três irmãs e criada em uma família de classe média baixa em Brasília, Ângela Assis aprendeu cedo que independência era sinônimo de trabalho.
“Minha mãe sempre dizia: casamento não é meio de vida. Vocês precisam estudar e trabalhar para serem independentes”, conta.
Esse incentivo a levou à carreira no Banco do Brasil, após insistência da mãe para que prestasse concurso. “Eu dizia que não queria trabalhar em banco, mas me apaixonei pelo ambiente e descobri que não era nada do que eu imaginava.”
A trajetória incluiu passagens por diversas áreas do banco, um papel de destaque no IPO da BB Seguridade em 2013 e, em 2017, a mudança para São Paulo para assumir a diretoria comercial e de marketing da Brasilprev.
Em 2020, em plena pandemia, ela foi surpreendida com o convite para se tornar CEO. “Foi um desafio imenso assumir no auge da crise sanitária, mas conseguimos manter a companhia funcionando, sempre muito próxima dos clientes”, conta Assis.
Mulher em um setor dominado por homens
A chegada ao topo tem um peso simbólico. Além de ser a primeira mulher a ocupar o cargo de CEO da Brasilprev, Ângela, até hoje, segue sendo exceção em um setor majoritariamente masculino.
“Na diretoria ampliada da FenaPrevi, que reúne mais de 35 diretores, eu sou a única mulher”, diz.
A liderança feminina, para ela, exige assertividade com estratégia. “Sempre fui muito direta, mas aprendi a importância de escolher o momento certo para falar. Você pode dizer qualquer coisa, desde que a outra pessoa esteja aberta para escutar.”
Democratização e tecnologia
Para ampliar o acesso, a Brasilprev tem apostado em produtos simplificados e mais acessíveis, como planos que começam em R$ 100 mensais.
“É fundamental mostrar que previdência não é só para as classes A e B. Queremos alcançar a classe C e D, que também precisa de complementação de aposentadoria.”
Nesse movimento, tecnologia é peça-chave. A companhia foi pioneira ao lançar previdência via Pix recorrente e contratação pelo WhatsApp. Além disso, tem investido no uso de inteligência artificial para melhorar a experiência do cliente. “Em uma jornada de realocação de investimentos no WhatsApp, a adoção de IA generativa elevou nosso NPS em 35 pontos”, conta.
Educação financeira como missão
Ângela também destaca o papel da educação financeira. A Brasilprev mantém programas em escolas públicas e iniciativas digitais para conscientizar jovens e famílias.
“O jovem acha que nunca vai acontecer nada. Mas se começa cedo, mesmo com pouco, consegue construir uma proteção para o futuro.”
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Liderança e futuro
Para o futuro, além de possíveis conselhos de administração, ela pretende se dedicar a causas sociais: animais abandonados e pessoas com deficiência.
Mas antes disso, pretende deixar um legado como líder: ser transparente e próximo das equipes.
“Um líder precisa gostar de pessoas e praticar o que fala. Não adianta cobrar agilidade se você demora uma semana para responder”, afirma. “A liderança é sobre ajudar o outro a crescer, seja no trabalho ou na vida. É isso que me move.”
Por Por Brasília
Fonte Exame
Foto: Leandro Fonseca /Exame