Desenrola Brasil pode beneficiar mais de um milhão de brasilienses

De acordo com os dados da Serasa, o número de pessoas no DF que estavam com dívidas atrasadas até dezembro do anos passado era de 1,2 milhão

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Mais de um milhão de brasilienses poderão ser beneficiados com o novo programa de renegociação de dívidas do Governo Federal, o Desenrola Brasil. De acordo com a Serasa, o número de moradores do Distrito Federal que estavam inadimplentes – isto é, com dívidas de diferentes valores atrasadas – chegava a pouco mais de 1,2 milhão de pessoas em dezembro do ano passado, limite de período que será abarcado pelo novo programa.

Vale ressaltar que a estimativa é baseada nos números de inadimplentes de dezembro do ano passado e que as dívidas atrasadas naquele mês podem já ter sido quitadas. Sendo assim, o número real de brasilienses beneficiados com o programa poderá ser menor nesta renegociação. Os índices atuais, porém, indicam que os inadimplentes da capital cresceram na comparação com dezembro de 2022, tendo 46 mil devedores atrasados a mais.

Nesta primeira fase do programa Desenrola Brasil, serão atendidos dois públicos principais: aqueles que possuem dívidas de até R$ 100 com os bancos, que terão a inadimplência anulada e o nome automaticamente limpo; e aqueles que têm renda até R$ 20 mil e dívidas com o banco sem limite de valor, que poderão encontrar possibilidades de renegociação com as instituições financeiras.

Conforme o planejamento do Governo Federal, estas duas primeiras etapas, que iniciaram na última segunda-feira (17), devem abranger cerca de 30 milhões de pessoas em todo o Brasil. A terceira etapa ocorrerá apenas em setembro, com adesão de devedores com renda de até dois salários mínimos ou inscritos no CadÚnico – Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal – e com dívidas financeiras cujos valores não ultrapassem R$ 5 mil.

Dívidas no DF

Enquanto a taxa média nacional de endividamento atingiu níveis não vistos desde 2010, abrangendo 78,5% dos brasileiros em junho deste ano, no Distrito Federal, porém, o número de famílias com dívidas ativas tem diminuído e chegou ao menor valor desde novembro de 2021. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o brasiliense tem tido maior controle financeiro e fechou o último mês com taxa de endividamento em 77,5%.

A inadimplência, por outro lado, cresceu em junho, atingindo 14,2% dos endividados, cerca de 1,2 pontos percentuais a mais que em maio, quando 13% dos devedores não conseguiram arcar com os compromissos financeiros dentro do prazo previamente estabelecido. Das famílias entrevistadas pela PEIC, cerca de 6,2% afirmaram que não terão condições de arcar com as dívidas em atraso, permanecendo inadimplentes, portanto.

O crédito é a modalidade de pagamento mais utilizada ao se criar uma dívida tanto no Brasil quanto no DF. Na capital, 88 em cada 100 pessoas endividadas fizeram os compromissos a prazo pelo cartão de crédito; no Brasil, são 87 a cada 100 que se endividam nessa modalidade. Em segundo lugar em Brasília estão os endividamentos pelos carnês, correspondendo a 17,1% dos devedores.

De acordo com a economista Izis Ferreira, responsável pelo levantamento da Peic, o cenário econômico com o Desenrola Brasil tende a melhorar, uma vez que a negociação de dívidas incentivará o retorno das pessoas negativadas ao mercado de consumo. O que ainda precisa ser analisado, por outro lado, segundo ela, é como será a percepção de risco por parte dos bancos para liberar créditos ou não para a parcela da população que teve o nome limpo pelo programa.

“Se tivermos uma taxa alta de sucesso na renegociação, com um volume de pessoas conseguindo pagar a dívida, acho que tendemos a ter um cenário melhor de crédito. […] Agora se tivermos uma taxa muito alta de insucesso no pagamento das dívidas renegociadas, teremos de aguardar um pouco mais para saber se a percepção de risco sobre o consumidor vai se manter deteriorada ou não”, destacou a economista.

O garçom Cristiano Soares, de 34 anos, é um dos que pretende renegociar uma dívida no cartão de crédito junto ao banco. Atualmente, o saldo devedor do morador do Paranoá Parque é de R$ 3.600, mas ele tem esperança de que, com a ajuda do programa, conseguirá uma redução de pelo menos 50% no valor total e poderá efetuar o pagamento total em 12x de R$ 150,00. Essa é a proposta dele.

“Espero que dê certo. Isso vai me ajudar a dar entrada numa casa – preciso do nome limpo na praça para isso”, destacou. “Esse sonho é maior do que o de comprar um carro; é o sonho de qualquer brasileiro”, continuou. De acordo com Cristiano, a situação financeira ficou pior quando ficou desempregado e precisou arcar com os gastos utilizando o crédito. A situação, portanto, acarretou na dívida.

SAIBA MAIS

O Desenrola Brasil é um programa emergencial elaborado pelo Governo Federal, com a Secretaria de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, para combater a crise de inadimplência no país, que cresceu com a pandemia e com o aumento das taxas de juros.

De acordo com o Governo Federal, o Brasil tem atualmente 70 milhões de pessoas negativadas, que é o quantitativo a ser alcançado pelo programa.

Poderão ser renegociadas as dívidas negativadas de crédito de 2019 até 31/12/2022.

A adesão ao programa por credores, beneficiários e bancos, porém, é voluntária.

Por Vítor Mendonça do Jornal Brasília

Foto: Reprodução Jornal de Brasília